O projeto de lei para agilizar a liberação de agrotóxicos no Brasil provocou revolta de artistas e ambientalistas nas últimas semanas. Marcos Palmeira, Zezé Polessa e outros atores gravaram um manifesto contra o projeto que, segundo o ator Érico Brás, “vai colocar mais agrotóxico na comida do povo brasileiro”. Bela Gil foi à Câmara com cartazes de protesto; o Greenpeace até instalou uma bomba de mentira na audiência que discutia a questão.
Eis mais um caso de ativistas que agem contra a própria causa. Quem se preocupa com o impacto ambiental da agricultura no Brasil deveria torcer por menos entraves à inovação nessa área.
Justamente para lucrar o máximo possível, as fabricantes de agrotóxicos respondem a demandas da sociedade. No passado, a eficiência e o preço de um defensivo importavam mais que a biossegurança. Cientistas do ramo costumam dizer que os agrotóxicos eram como metralhadoras –matavam pragas e muitas outras coisas ao mesmo tempo.
Por exigência do ambientalismo, mais forte na Europa e nos Estados Unidos que no Brasil, os defensivos funcionam cada vez mais como snipers –precisos e com pouco impacto além do alvo. Nenhuma Basf ou Bayer vai ser louca de gastar milhões na pesquisa e desenvolvimento de um produto que será proibido por causar danos graves à saúde ou ao meio ambiente. E que poderá resultar em processos bilionários contra as empresas.
Alguns dados confirmam essa tendência. Um índice bastante utilizado para medir o impacto ambiental de agrotóxicos é o EIQ (Environmental Impact Quotient). Quanto maior o índice, maior a influência de um químico ao meio ambiente, ao consumidor e ao trabalhador do campo.
Por causa da inovação, o EIQ dos agrotóxicos usados no cultivo de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar caiu 38% que de 2002 a 2015, segundo pesquisa do agrônomo Caio Carbonari, da Unesp. E isso num período em que a produtividade por hectare aumentou. Conseguimos produzir mais comida em menos espaço e com menor impacto ambiental.
Já o professor Edivaldo Velini, diretor da Faculdade de Agronomia da Unesp de Botucatu, comparou o EIQ de químicos usados hoje no Brasil com aqueles à espera da liberação no Ministério da Agricultura, na Anvisa e no Ibama. Descobriu que, dos cinco produtos na fila que têm o índice calculado, todos causam menos impacto (em média 32% menos) que os usados atualmente.
Veja só que situação. Existem no mundo agrotóxicos com mais biossegurança que os usados hoje no Brasil, mas a lentidão e a burocracia do governo impedem a entrada desses produtos.
Pior ainda, gente que acredita defender a natureza, como Bela Gil, Marcos Palmeira e o Greenpeace, trabalham para que esse absurdo continue. Na sanha de prestar lealdade a seu grupinho do Leblon e se opor aos ruralistas, atores acabam prejudicando o meio ambiente que acreditam proteger.
Nelson Rodrigues certamente exagerava quando dizia “o indivíduo ou é ator ou é inteligente”. Mas, ao assistir os vídeos de artistas sobre agrotóxicos, fica difícil discordar do dramaturgo.
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