Leandro Narloch

Leandro Narloch é jornalista e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.

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Não convém deixar o PSOL administrar museus e universidades

É um absurdo o reitor da UFRJ ainda não ter pedido demissão

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O leitor me perdoe, mas é preciso politizar a tragédia. Não acredito que integrantes do PSOL sejam administradores naturalmente piores que os do PTB, PTS, Solidariedade ou de tantos outros partidos que pululam por aí. O problema é o apego desmedido do PSOL a ideias ruins.

A tragédia do Museu Nacional mostrou que as universidades federais, seus museus e hospitais precisam com urgência de um novo modelo de governança. É preciso passar a direção dessas instituições para fundações independentes focadas em fazer parcerias e arrecadar doações privadas.

É o que fazem os principais museus do mundo e, no Brasil, o Museu do Futebol e o Museu do Amanhã, já visitado por 3 milhões de brasileiros em menos de três anos. E como queria o Banco Mundial há duas décadas, ao se dispor a doar para o Museu Nacional 80 milhões de dólares (que a UFRJ recusou).

Mas integrantes do PSOL, como o reitor da UFRJ, Roberto Leher, serão os últimos a apoiar essas mudanças. Boa parte da obra acadêmica do reitor é destinada a rejeitar soluções de modernização da educação pública propostas pelo Banco Mundial.

Em 2005, Leher criticou o governo Lula por aderir a “propostas neoliberais” do Banco Mundial como o ProUni, as parcerias com a iniciativa privada, as fundações com governança corporativa. É contra até mesmo as gratificações aos professores por produtividade e sistemas para verificação de qualidade e eficiência do ensino.

Textos recentes do reitor ainda preservam o vocabulário anterior à queda do Muro de Berlim. Ele fala sobre “imposições truculentas de perversos organismos internacionais a serviço dos senhores do mundo”, que são parte de uma “agenda neoliberal” implantada por “frações locais da grande burguesia”.

Há uma divergência da imprensa se houve aumento ou queda da verba de custeio repassada pelo governo à UFRJ. Mas é fato que a universidade, por escolha própria (é autônoma para decidir o destino de gastos não-obrigatórios) reduziu o dinheiro para o museu com uma intensidade ainda maior que a possível queda de transferências do governo.

De 2013 a 2017, enquanto os investimentos federais caíram 44%, a despesa da UFRJ com o museu caiu 77%. A reitoria preferiu concentrar recursos na criação de uma rádio FM, projeto que captou R$ 2,5 milhões em 2016 e 2017.

A segurança do Museu Nacional nem sequer estava nas prioridades da universidade —tanto que, ao negociar financiamento para reforma com o BNDES, a UFRJ esqueceu do sistema de combate a incêndio. Foi o BNDES que a advertiu quanto a isso.

Durante a tragédia, o reitor Roberto Leher culpou os bombeiros, “o descaso”, a falta de investimentos e a falta de verbas. Mas ele também tem um bocado de culpa nessa história.

Ora, se um reitor percebe que o dinheiro para a segurança de um museu não vem e não virá, e que reclamar não produz resultado, então precisa se render à realidade e buscar outras formas de financiamento. Por exemplo, unir-se a empresas e fundações, ou alterar a administração do Museu Nacional para uma fundação que pudesse receber doações privadas.

Mas o reitor abandonou o museu às contingências do orçamento público. Preferiu se importar mais com a ideologia que com as preciosidades da história do mundo pelas quais era responsável.

“O futuro da universidade pública latino-americana dependerá do avanço desses nexos virtuosos entre a universidade e as lutas anti-imperialistas e anticapitalistas", escreveu Leher em 2015, enquanto o Museu Nacional caía aos pedaços. 

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