Leandro Narloch

Leandro Narloch é jornalista e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.

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Deveríamos ser otimistas com o governo Bolsonaro?

É melhor Jair se decepcionando com os serviços públicos. Mas, na economia, é hora de se entusiasmar com o país

 O então candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, faz transmissão ao vivo após o resultado do primeiro turno das eleições ao lado do economista Paulo Guedes
O então candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, faz transmissão ao vivo após o resultado do primeiro turno das eleições ao lado do economista Paulo Guedes - 07.out.2018/Reprodução

Nos tempos de faculdade, um amigo meu teve uma ideia brilhante para importunar os colegas. Encomendou um carimbo com a frase “Não vai dar certo” e passou a carimbar cartazes e avisos dos murais. Festival de cinema? Não vai dar certo. Reunião de mobilização contra o governo? Não vai dar certo.

Deveríamos usar um carimbo como esse para prever a qualidade dos serviços que o governo oferece. Por mais iluminados e enérgicos que sejam o líder e sua equipe, eles são poucas pessoas entre milhares de funcionários sem incentivos para atender bem o público e, pelo contrário, com muitos incentivos para agir com displicência.

A menos que Bolsonaro e os governadores apostem numa mudança radical de incentivos, como a de investir em vouchers para a saúde e a educação (o “ProUni da educação básica” que Henrique Meirelles propôs), pouco vai mudar nessas áreas nos próximos quatro anos.

A ineficiência do Estado tem raízes muito mais profundas que as atitudes do político que esquenta a cadeira de presidente. Por mais inflamados que sejam os discursos de Bolsonaro, os corredores dos hospitais públicos continuarão decrépitos e cheios de doentes gemendo em macas improvisadas; os estudantes seguirão desinteressados e ofendendo professores durante a aula. É melhor Jair se decepcionando.

Mas na economia a história é outra.

No que se refere ao futuro das empresas e ao bolso dos trabalhadores e das famílias, temos um bocado de motivos para encher o peito de otimismo.

Depois de uma década de barbeiragens e insegurança econômica do PT, e mais dois anos de indefinição com as reformas do governo Temer, agora temos não só uma boa equipe econômica, mas uma equipe com força no Congresso.

A reforma da Previdência vai enfim ser aprovada, colocando a política fiscal nos eixos. Empresários até anteontem temerosos com as contas do governo já estão decidindo investir e abrir vagas.

Isso é só o começo. Paulo Guedes, nosso Chicago Boy, prepara uma venda gigantesca de estatais e outros ativos públicos, além de uma derrubada de barreiras e regulações.

“Vamos salvar a indústria, apesar dos industriais brasileiros”, disse Guedes ontem ao anunciar a extinção do Ministério da Indústria e Comércio. Diante dessa frase eu tenho vontade de ajoelhar e dizer: “Amém, glória a Deus!”.

Guedes está dizendo que vai enfrentar a maior força anticapitalista do Brasil –a dos capitalistas, geralmente pouco afeitos ao livre mercado, dependentes de subsídios e proteções. Se ele estiver falando sério, o Brasil tem chance de se modernizar e entrar nas cadeias globais de produção.

Como Lula, Bolsonaro tem tudo para se beneficiar do gráfico em “U” da economia. Depois de uma queda acentuada e dois anos na horizontal, a economia vai enfim apontar para cima. A regressão à média produzirá nos brasileiros a percepção de que, depois de tantos anos de tempestade, a bonança chegou.

Bolsonaro não precisa ser um gênio ou um grande estadista para se beneficiar dessa bonança. Basta aprovar logo a reforma da Previdência e seguir o que sugere o Posto Ipiranga. Se não, não vai dar certo. 

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