– Me persegue, por favor. Me ameaça, me censura, me joga nos porões.
– Olha, não vai dar.
– Diz que vai me calar à força, me expulsa do país.
– Tenho muita coisa pra fazer, tá ok?
– Não tá ok, não. Semanas atrás você disse que mandaria todos os comunistas embora. Antes, disse que mataria uns 30 mil. Não vem agora com esse papinho de democracia.
– Veja bem: preciso escolher um bocado de ministros, aprovar uma reforma constitucional e, o mais difícil, manter meus filhos e assessores quietos. Tô sem tempo pra me preocupar com você.
– Para com isso. Para de fingir que não liga pra mim. Eu sei que você me odeia.
– Sim, eu te odeio, pô. Mas...
– Pois faça o que eu sei que você tem vontade. Ameaça minhas liberdades democráticas, impõe teu pensamento único.
– Agora tô num clima de conciliação. Ganhei de você pelo voto, terei maioria no Congresso e os teus partidos estão meio queimados, te perseguir só me daria dor de cabeça.
– Ah, para de botar essa banca de surfista velho. Cadê aquele lado intolerante e autoritário?
– Aquele é só no YouTube, para os seguidores mais fanáticos. Coisa do passado.
– Então não vai ter ameaça à democracia?
– Não.
– Nem golpe contra o STF?
– Não.
– Volta dos militares ao poder, ataques contra gays e outras minorias?
– Humm... Não.
– Droga.
– Droga? Me diz, por que você quer tanto que eu te persiga?
– Sei lá. Aquela coisa romântica de resistir à opressão dos militares, pegar em armas para lutar pela liberdade, sem lenço nem documento, eles venceram e o sinal está fechado para nós, que somos jovens.
– Não tô entendendo, pô.
– Se você me perseguir, será a prova de que eu estava certo. Eu preservo meu papel de guardião da virtude e dos direitos. Do contrário, vou ficar com uma baita fama de paranoico.
– Entendi. É por isso que para nós interessa muito pouco te perseguir. Não queremos te dar razão, tá ok?
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.