Leandro Narloch

Leandro Narloch é jornalista e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.

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Leandro Narloch

Um AI-5 pra chamar de seu

Um diálogo sobre o fetiche por ditadura

Jair Bolsonaro passa por painel alusivo ao período da ditadura no hall da taquigrafia na câmara dos deputados, em 2014. - Pedro Ladeira - 9.dez.2014/Folhapress

– Me persegue, por favor. Me ameaça, me censura, me joga nos porões.

– Olha, não vai dar.

– Diz que vai me calar à força, me expulsa do país.

– Tenho muita coisa pra fazer, tá ok?

– Não tá ok, não. Semanas atrás você disse que mandaria todos os comunistas embora. Antes, disse que mataria uns 30 mil. Não vem agora com esse papinho de democracia.

– Veja bem: preciso escolher um bocado de ministros, aprovar uma reforma constitucional e, o mais difícil, manter meus filhos e assessores quietos. Tô sem tempo pra me preocupar com você.

– Para com isso. Para de fingir que não liga pra mim. Eu sei que você me odeia.

– Sim, eu te odeio, pô. Mas...

– Pois faça o que eu sei que você tem vontade. Ameaça minhas liberdades democráticas, impõe teu pensamento único.

– Agora tô num clima de conciliação. Ganhei de você pelo voto, terei maioria no Congresso e os teus partidos estão meio queimados, te perseguir só me daria dor de cabeça.

– Ah, para de botar essa banca de surfista velho. Cadê aquele lado intolerante e autoritário?

– Aquele é só no YouTube, para os seguidores mais fanáticos. Coisa do passado.

– Então não vai ter ameaça à democracia?

– Não.

– Nem golpe contra o STF?

– Não.

– Volta dos militares ao poder, ataques contra gays e outras minorias?

– Humm... Não.

– Droga.

– Droga? Me diz, por que você quer tanto que eu te persiga?

– Sei lá. Aquela coisa romântica de resistir à opressão dos militares, pegar em armas para lutar pela liberdade, sem lenço nem documento, eles venceram e o sinal está fechado para nós, que somos jovens.

– Não tô entendendo, pô.

– Se você me perseguir, será a prova de que eu estava certo. Eu preservo meu papel de guardião da virtude e dos direitos. Do contrário, vou ficar com uma baita fama de paranoico.

– Entendi. É por isso que para nós interessa muito pouco te perseguir. Não queremos te dar razão, tá ok?

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