Leandro Narloch

Leandro Narloch é jornalista e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.

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Lula e o mercado de ideias políticas

Por mais irracionais que sejam as crenças dos eleitores, sempre haverá um político querendo defendê-las

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Estamos acostumados a pensar em "mercado" e "política" como ambientes distintos. A distinção é ilusória por vários motivos. Um deles é que os políticos também seguem as leis de um mercado: o mercado de ideias políticas.

A oferta de produtos e serviços tradicionais é essencialmente amoral. Empresários nem sempre criam mercadorias com a intenção de melhorar o mundo, mas para ganhar dinheiro satisfazendo vontades das mais diversas (e às vezes bastante destrutivas) dos consumidores.

Surgem assim produtos que só prejudicam quem os consome, mas ainda assim têm clientes fiéis.

O ex-presidente Lula durante encontro com sindicalistas - Marlene Bergamo - 12.mai.22/Folhapress

É o caso das máquinas caça-níquel, do sanduíche de mortadela do Mercado Municipal, do Twitter, da homeopatia, do crack, dos textos da Lilia Schwarcz, da pochete e dos salgadinhos ultraprocessados de sódio, corante a amido.

Os empresários que oferecem essas coisas até devem suspeitar que não ajudam ninguém. Mas fazer o quê? Tem gente querendo comprar. Por mais bizarros que sejam os desejos das pessoas, sempre haverá algum empreendedor querendo satisfazê-los.

Também é assim no mercado de ideias políticas. Candidatos nem sempre oferecem ideias com a intenção de melhorar o mundo, mas para ganhar votos fortalecendo crenças das mais diversas (e às vezes bastante destrutivas) dos eleitores.

Surgem assim propostas que só prejudicam o país que as implanta, mas ainda assim têm clientes fiéis.

É o caso de algumas ideias que o ex-presidente Lula vem defendendo. Só nesta semana ele prometeu acabar com o teto de gastos, compensar o aumento da dívida com aumento do PIB, mudar a política de preços da Petrobras. E afirmou que a reforma trabalhista teve "mentalidade escravocrata".

Lula não é monopolista nesse mercado: Bolsonaro também oferece ao público seus Baconzitos ideológicos.

Esses políticos até sabem que não ajudam ninguém defendendo ideias ruins. Mas fazer o quê? Tem gente querendo comprar. Por mais bizarras que sejam as crenças dos eleitores, sempre haverá algum político querendo defendê-las.

Nos dois mercados, a inovação ajuda a vencer a concorrência. "Políticos talentosos fazem mais do que ceder aos equívocos atuais", diz o economista Bryan Caplan em "O Mito do Eleitor Racional". "Eles guiam o público rumo aos ‘novos e melhores’ equívocos do amanhã. Um bom político diz ao público o que ele quer ouvir; um político melhor diz ao público o que ele vai querer ouvir."

Ao chegar ao poder, porém, o político enfrenta um dilema. Se for fiel a seus eleitores e seguir as ideias ruins que defendeu durante a campanha, seu governo será um fracasso. Mas se implantar propostas corretas, terá que trair seus eleitores. Por sorte, boa parte dos políticos escolhe a segunda opção.

É o que esperamos para 2023. Tomara que Lula, se eleito, não seja tão fiel a Lula. E que Bolsonaro seja um pouco menos bolsonarista.

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