É irrelevante o argumento de defesa do diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, de que foi "mal interpretado" nas declarações que deu sobre o inquérito que investiga suspeita de ligação do presidente Michel Temer com suposto esquema na área dos portos.
A agência de notícias Reuters, para quem ele concedeu a polêmica entrevista na sexta (9), chegou a fazer um ajuste em seu conteúdo no domingo (11): o diretor-geral "indicou", e não "afirmou", que a tendência da polícia é arquivar a investigação.
Pouco importa. O mais complicado da atitude de Segovia foi opinar sobre o teor de uma apuração em andamento, conduzida por um delegado —no caso, Cleyber Lopes, desafeto público e antigo do atual chefe da PF.
E esse é o ponto. Em pleno curso do inquérito, Segovia afirma que são "muito frágeis" os indícios de que houve propina por parte da empresa Rodrimar na edição de um decreto que alterou regras na área de concessão de portos a partir de 1993.
No mérito, o diretor-geral tem até certa razão. A investigação, de fato, ainda não avançou em provas que apontam um esquema de corrupção envolvendo a Rodrimar e Temer.
Ao palpitar, no entanto, Segovia contamina o inquérito e constrange o delegado. Se lá na frente, Lopes concluir no sentido de arquivá-lo, por absoluta falta de provas, poderá ser cobrado por supostamente obedecer ao chefe. Ou, se buscar complicar a vida de Temer, corre risco de ser acusado de mostrar independência mesmo sem indícios probatórios.
Bancado por José Sarney para assumir a PF, Segovia, a bem da verdade, não surpreende ninguém. Logo após sentar na cadeira, minimizou a relevância da mala de R$ 500 mil recebida por Rocha Loures da JBS.
Ademais, viraram rotina seus encontros privados e fora da agenda com o presidente Temer. Segovia ignora a liturgia do cargo. Se a escolha dele para dirigir a PF soou como imprópria, a sua permanência a partir de agora só causará danos à instituição.
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