Leandro Colon

Diretor da Sucursal de Brasília, foi correspondente em Londres. Vencedor de dois prêmios Esso.

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Leandro Colon
Descrição de chapéu

Ao enviar carta a Dodge e visitar Cármen, Temer age como cidadão diferenciado

Elite da classe política mantém pensamento de que não deve ser tratada como um cidadão 'comum'

O presidente da República, Michel Temer, deixa a casa da presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, em Brasília
O presidente da República, Michel Temer, deixa a casa da presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, defendeu, em entrevista à Folha neste domingo (11), que Michel Temer receba tratamento diferenciado em qualquer investigação da qual ele seja alvo, inclusive sobre suspeita de corrupção.

Nas palavras do aliado fiel, o presidente merece a honraria em razão do cargo que ocupa. “Não é sobre apenas a pessoa, mas a incolumidade da função. Ele tem funções essenciais de chefe de Estado que ficam prejudicadas com essa suspeita não fundamentada”, afirmou.

Jardim refere-se à quebra dos sigilos bancário e fiscal determinada pelo ministro Luís Roberto Barroso (STF) no inquérito que apura a suspeita de que Temer recebeu propina de empresas na edição de um decreto em 2017 para o setor portuário.

O ministro da Justiça ainda criticou a inclusão de Temer, a pedido da procuradora-geral, Raquel Dodge, na investigação de repasses da Odebrecht ao MDB em 2014, discutidos em estranho jantar no Jaburu.

O discurso de Jardim de que um presidente é um cidadão diferente já vem sendo praticado pelo chefe.

Na quinta (8), Temer enviou uma carta a Dodge, indicada por ele ao cargo de PGR, para criticar a inserção de seu nome no inquérito da Odebrecht. Temer diz na mensagem que tomou a “liberdade” de escrevê-la com o objetivo “acadêmico”. 

No sábado (10), o emedebista esteve na casa da presidente do STF, Cármen Lúcia. A versão oficial é de que trataram da intervenção no Riosendo que a ministra foi alijada da discussão desde o começo da ação.

Em 2009, Lula, então presidente, declarou que José Sarney, na ocasião pivô de um escândalo no Senado, não deveria ser tratado como um “comum”. O petista apenas verbalizou o pensamento da elite da classe política. De lá para cá, nada mudou. 

Afinal, um cidadão tem de ser diferenciado para enviar uma carta ao seu investigador e visitar em casa, no fim de semana, a presidente do tribunal que um dia poderá julgá-lo. 

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