Leandro Colon

Diretor da Sucursal de Brasília, foi correspondente em Londres. Vencedor de dois prêmios Esso.

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Leandro Colon
Descrição de chapéu Copa do Mundo Eleições 2018

Neymar e o flá-flu na política

As bobagens escritas pelo jogador podem caber em discursos nas eleições de outubro

Na Copa de 1994, Dunga inovou soltando palavrões ao erguer a taça do tetra nos Estados Unidos. Na época, a gritaria destemperada e deselegante do capitão foi interpretada como resposta às críticas que recebia desde o fracasso de 90, que ficou na história como a “era Dunga”.

Na última sexta-feira (22), logo após a vitória suada sobre a Costa Rica, Neymar publicou um desabafo nas redes sociais. “Nem todos sabem o que passei para chegar até aqui. Falar, até papagaio fala, agora fazer, poucos fazem!”, disse. “Na minha vida as coisas nunca foram fáceis. Não seria agora, né?”, escreveu.

Os comportamentos de Dunga e de Neymar são de certo modo padrão no futebol brasileiro, inclusive nos campeonatos locais. Quando um clube ganha, a celebração costuma ser na forma de resposta a todos aqueles que desacreditaram o time.

Em vez de celebrar, prefere-se perder tempo mandando o adversário calar a boca, silenciar, afinal, ninguém sabe as “dificuldades” enfrentadas na caminhada da conquista.

Não há dúvidas sobre os obstáculos superados por Neymar para se transformar no jogador mais caro do mundo e mais importante do país. Questionar sua atitude mimada em campo e fora dele, porém, não significa ignorar sua genialidade com a bola. Quem o critica não necessariamente quer seu mal ou o odeia.

O mesmo tipo de situação torna-se cada vez mais comum no debate político. Não à toa, apelidou-se de “flá-flu” a guerra insana na internet. Importa menos o sucesso de um e mais provocar ou achincalhar o outro. 

As bobagens escritas por Neymar depois do jogo podem muito bem caber em discursos nas eleições de outubro. “Nem todos sabem o que passei para chegar até aqui”, dirá um governador eleito. “Falar, até papagaio fala, agora fazer, poucos fazem”, afirmará um senador ou um deputado.

“Na minha vida as coisas nunca foram fáceis” serão as palavras do presidenciável a ser escolhido nas urnas —e a depender do vencedor, não será surpresa para ninguém uma reação ao melhor estilo Dunga de 94.

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