Leão Serva

Jornalista, foi coordenador de imprensa na Prefeitura de São Paulo (2005-2009). É coautor de "Como Viver em São Paulo sem Carro".

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Leão Serva

Não faça sexo com motorista infrator

Conta a história que ao ver os paulistas derrotados na Guerra dos Emboabas (contra os portugueses que queriam controlar Minas Gerais), as mulheres de São Paulo recusaram-se a receber os maridos e fizeram uma greve de sexo. Isso foi no início do século 18. A peça "Lisístrata", do grego Aristófanes, narra um episódio semelhante, quando mulheres de Atenas exigiram o fim das guerras contra a inimiga Esparta (o episódio é narrado numa bonita canção de Chico Buarque).

Temos sido derrotados diariamente em uma guerra muito mais letal do que todas as outras, inclusive a dos Emboabas: o trânsito mata cerca de 40 mil brasileiros todos os anos, o equivalente a quase todos os americanos que morreram na Guerra do Vietnã.

E toda essa violência motorizada é um crime de gênero : 85% dos acidentes com vítimas são causados por homens.

Está provado que atacar o bolso de quem desrespeita as leis não é suficiente. As multas não surtem efeito, muitos infratores não pagam, carros rodam sem licença e motoristas dirigem sem carteira, como é o caso do que bateu e do que foi abalroado na tragédia na rodovia dos Imigrantes, no último dia 9.

O sexo é o órgão mais sensível do ser humano. Chegou a hora de usar recurso mais eficiente, atacar o homem no que ele mais preza: devemos mirar o exemplo daquelas mulheres de Atenas e de São Paulo, pedir que parceir@s sexuais de infratores no trânsito, sejam eles héteros, homos, trans ou como queiram, recusem-se a transar com eles.

Deixou de usar o cinto de segurança, vai conhecer o cinto de castidade. Parou em lugar proibido: o sexo fica estacionado por um dia. Atravessa o sinal amarelo: dois dias na mão! Sinal vermelho? Uma semana! Excesso de velocidade: vai dormir na sala. Perdeu a carteira de motorista? Só vai transar quando chegar a nova.

As testemunhas contam que a mulher do motorista do Mercedes-Benz, agora preso sob acusação de matar duas pessoas e ferir outras seis na tragédia da Imigrantes, cobrou do marido: "Você viu o que fez?" Ao que ele teria dito: "Eu já destruí minha vida, agora você tem que ficar do meu lado". Em verdade, ele destruiu diversas vidas, pelo menos oito no carro em que bateu, mais a de sua mulher, dele mesmo e seus familiares. E como elas, outras 40 mil famílias são destruídas anualmente pela perda de um ente querido para um tipo evitável de crime.

Crédito: Marcelo Goncalves/Sigmapress/Folhapress Mercedes envolvida no acidente que matou duas pessoas na Imigrantes é recolhida para pátio
Mercedes envolvida no acidente que matou duas pessoas na Imigrantes é recolhida para pátio

Tudo isso não aconteceria se os infratores brasileiros fossem punidos com a falta de sexo. Muito antes dos 50 anos, o motorista do Mercedes teria aprendido a conter o pé no acelerador, para poder manter outros prazeres.

Será a mais eficiente de todas as punições. A julgar pelos casos anteriores, das mulheres de Atenas e da São Paulo, vai passar para a história, será uma medida lembrada daqui a muitos séculos.

Acho até que ela poderia ser estendida também a todos os radialistas e políticos que atacam o que chamam de "indústria da multa", quando na verdade enfrentamos uma "indústria de mortes". Usou a expressão "indústria da multa": greve de sexo.

Então, dona Bia Doria: se o João voltar àquele mote de campanha, já viu, né? E tod@s @s outr@s parceir@s desses ogros que desrespeitam as leis de trânsito. Vamos lá, melhorar nossa qualidade de vida. Menos é mais! Caem as infrações, sobe o sexo; caem os acidentes, aumenta o prazer.

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