Leão Serva

Jornalista, foi coordenador de imprensa na Prefeitura de São Paulo (2005-2009). É coautor de "Como Viver em São Paulo sem Carro".

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Há 50 anos, Maria Antônia era palco de guerra entre estudantes

Rua Maria Antônia, com o prédio da USP à direita e o Mackenzie à esquerda
Rua Maria Antônia, com o prédio da USP à direita e o Mackenzie à esquerda - Eduardo Knapp/Folhapress

Quem passa pela Maria Antônia, de apenas duas quadras, talvez nem se dê conta de que a rua de Higienópolis, há meio século, foi centro das atenções da cidade, cenário do que poderia ter sido o início da revolução. Ali se decidiam os destinos da humanidade, numa disputa entre dois polos políticos antagônicos: Mackenzie, à direita, e Filosofia da USP, à esquerda.

Assim pelo menos pareciam pensar os estudantes que em outubro de 1968 ocuparam os prédios das duas instituições. Dos lados opostos da rua e da batalha ideológica, eles se atacavam mutuamente com xingamentos, pedras, de vez em quando disparos e, muitas vezes, batalhas campais. Numa troca de tiros, morreu o estudante secundarista José Guimarães.

A USP estava ocupada pela esquerda liderada pelo então presidente da UEE, José Dirceu, hoje preso por crimes ligados ao mensalão. Segundo os cronistas da época, Daniel, seu nome de guerra, aproveitou para namorar boa parte da ala feminina do estudantado. Era tão namorador que acabou se engraçando com uma agente infiltrada pela polícia política.

O fotógrafo Gil Passarelli, da Folha, ganhou o prêmio Esso daquele ano com a imagem de uma briga entre estudantes de direita e de esquerda. A foto revela também que o cenário esquemático não correspondia à realidade: nela, tanto esquerdistas quanto direitistas são estudantes do Mackenzie. Aliás, Dirceu tinha como vice-presidente na UEE um aluno do Mackenzie, Américo Nicolatti.

Nesses 50 anos, a Maria Antônia mudou radicalmente. Com a ida da USP para a Cidade Universitária, o antigo prédio da Filosofia se tornou um centro cultural. O Mackenzie cresceu, hoje ocupa quase toda a quadra que no século 19 pertenceu à baronesa Maria Antônia da Silva Ramos.

Quem anda pela rua vê que atualmente a única disputa intensa é entre marcas de cerveja. Os bares sempre lotados desconhecem divisões ideológicas.

O trânsito dos automóveis embaralhou mais os papeis: quem vai da Consolação para Higienópolis entra na Maria Antônia, vê surgir à esquerda a sede do Mackenzie e logo em seguida avista o antigo prédio da USP, à direita.

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