Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Eleições EUA 2020

Pandemia mostra que não há equivalência ideológica nos polos de discordância nos EUA

Não se encontra no Partido Democrata ou nos grupos à esquerda incitação à violência que se compare à ultradireita americana

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A polarização tem sido culpada pela paralisação política nos Estados Unidos e em países que elegeram populistas demagogos, como o Brasil. Mas a pandemia do coronavírus tem produzido argumentos de que não há equivalência ideológica nos polos de discordância política nos EUA.

Um vídeo já assistido mais de 40 milhões de vezes, gravado na segunda-feira (25), no coração liberal do país, o Central Park de Manhattan, é apenas o exemplo mais recente.

Uma mulher branca foi flagrada passeando com seu cachorro sem coleira, o que é ilegal, como deixam claras as placas de alerta no local, um trecho bastante frequentado por observadores de pássaros.

Couy Griffin, fundador do grupo Cowboys por Trump, passeia a cavalo no centro de Nova York
Couy Griffin, fundador do grupo Cowboys por Trump, passeia a cavalo no centro de Nova York - Jeenah Moon - 1º.mai.20/Getty Images/AFP

Um observador de pássaros negro, portando seu binóculo, pediu cordialmente à mulher que colocasse a coleira no cocker spaniel. Ela se recusou, e ele começou a gravar a cena com o celular.

Encolerizada, a mulher ligou para o número de emergência da polícia e, num tom que simulava pânico, disse que ela e seu cachorro estavam sendo ameaçados por “um afroamericano.”

Como sabemos por diversos casos em que policiais brancos matam negros em abordagens com excesso de força, o incidente podia ter terminado em tragédia. Terminou com a mulher, identificada como Amy Cooper, sendo sumariamente demitida da empresa de investimentos Franklin Templeton.

E o homem, Christian Cooper, editor de uma revista biomédica e formado por Harvard, dizendo que aceitaria desculpas se fossem sinceras.

No domingo passado, um grupo de ultradireita encenou o linchamento de um boneco do governador democrata de Kentucky, Andy Beshear, para protestar contra a quarentena, na frente da residência oficial.

O linchamento simboliza as caçadas e os assassinatos de negros no sul americano, na primeira metade do século 20.

O líder do grupo Cowboys por Trump já posou ao lado do presidente na Casa Branca. Couy Griffin ocupa um cargo municipal eletivo no Novo México. No último dia 17, Griffin disse a um grupo reunido numa igreja que tinha chegado à conclusão de que o único democrata bom é um democrata morto.

Não se encontra no Partido Democrata ou nos grupos à esquerda, como os Socialistas Democráticos da América, ativismo radical ou incitação à violência que se compare à ultradireita americana.

O crescente apoio ao autoritarismo na era Trump não pode ser dissociado de identidade racial, num grau que vai do chamado privilégio branco à escancarada supremacia branca, hoje rebatizada de “nacionalismo branco” em faxina de branding.

Num estudo feito em 2018, dois acadêmicos alertavam para a tendência que ajuda a explicar o incidente desta semana no Central Park.

Steven Miller e Nicholas Davis se debruçaram sobre pesquisas de opinião sobre convicções políticas e valores morais e revelaram, por exemplo, que, quanto maior o sentimento anti-imigrante, menor a defesa da democracia.

Quanto maior a desconfiança de que minorias vão ser beneficiadas pela democracia, maior o apoio ao autoritarismo.

Com a pandemia, está se formando uma nuvem sobre a legitimidade das eleições americanas de novembro. Trump ameaça cortar fundos de estados que implementarem voto pelo correio, denunciando fraudes inexistentes.

Uma pesquisa de opinião da Quinnipiac University, publicada no dia 21, revelou 3% de apoio dos eleitores negros a Trump, comparados a 81% de apoio negro ao democrata Joe Biden. Esses números refletem temor, não ideologia política.

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