Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Prefeito de Nova York navega pandemia e atos antirracismo como patinho feio entre progressistas

Resistência de Bill de Blasio a fechar escolas e impor distanciamento contribuiu para a cidade se tornar o epicentro da pandemia

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Ele foi o primeiro expoente da esquerda do Partido Democrata a ser eleito para governar uma grande cidade americana. E não uma qualquer, a maior delas, a metrópole dominante do continente na segunda metade do século 20.

O prefeito Bill de Blasio está navegando a pandemia e os protestos pela morte de George Floyd como o patinho feio entre os progressistas americanos.

Na segunda-feira (8), uma cena incomum se desenrolou na frente da sede do governo municipal, no sul da ilha de Manhattan.

Centenas de atuais e ex-funcionários da prefeitura se uniram para repudiar o apoio de De Blasio à atuação policial nos protestos e seguiram em marcha pela ponte do Brooklyn.

A defesa da polícia parece ter sido a gota d’água para servidores públicos que acreditavam ter aderido ao primeiro governo progressista da cidade e acusam o prefeito de não ouvir sua base.

A constante fricção entre prefeitos e a agressiva imprensa local é uma tradição em Nova York. Mas não há registro de funcionários públicos desafiando abertamente o chefe como se viu na segunda-feira.

O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, durante evento em homenagem a George Floyd
O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, durante evento em homenagem a George Floyd - Spencer Platt - 4.jun.20/Getty Images/AFP

Os vídeos de espancamento de manifestantes durante o desastrado toque de recolher decretado na semana passada —o primeiro na cidade em 75 anos— provocaram indignação nacional e até protestos do governador Andrew Cuomo, adversário constante de De Blasio.

O prefeito suspendeu o toque de recolher no domingo (4).

A resistência do democrata a fechar as escolas e impor distanciamento social em Nova York contribuiu para a cidade mais densa do país se tornar o epicentro da pandemia do coronavírus.

Um estudo epidemiológico da Universidade de Columbia estimou que, se a cidade tivesse fechado apenas uma semana mais cedo, no dia 8 de março, a região metropolitana de Nova York teria registrado menos 209.987 casos de infecção e 17.514 menos mortes.

De Blasio sucedeu o bilionário Mike Bloomberg em 2014 com uma plataforma de dois temas, desigualdade econômica e reforma para reduzir racismo na polícia.

Dante, filho do então candidato com a ativista negra Chirlaine McCray, aparecia nos filmes de campanha para ilustrar o temor que jovens negros e latinos tinham por ser desproporcionalmente detidos e revistados pela polícia de Bloomberg, a chamada prática do “stop and frisk”.

Quando De Blasio anunciou que ia eliminar o "stop and frisk", Bloomberg e ex-comandantes policiais previram que o crime voltaria a subir de sua baixa histórica a níveis da década de 1960.

Não subiu e, sob De Blasio, Nova York se tornou a grande cidade mais segura dos Estados Unidos.

De Blasio chegou já hostilizado por Wall Street, como previsível, por propor taxar milionários e bilionários, além de subir impostos prediais.

Encarou amplo ceticismo ao prometer o mais ambicioso programa de vagas pré-escolares na educação pública.

A realização, talvez a mais duradoura do prefeito, não bastou para que a maioria dos nova-iorquinos reagisse com sarcasmo e irritação à sua quixotesca e arrogante pré-candidatura à Presidência, suspensa em setembro do ano passado.

Mas os resultados do plano pré-escolar são, de fato, expressivos. Só no primeiro ano de governo, 2014, o número de crianças matriculadas disparou de 19 mil para 54 mil. Quando se reelegeu, em 2017, De Blasio criou o pré-escolar para crianças de 3 anos que preencheu todas as 20 mil vagas neste ano.

Mas a pandemia e a tensão racial sinalizam possíveis mudanças para a eleição municipal de 2021.

Os candidatos prováveis do establishment político local, como o presidente da Câmara de Vereadores, o progressista Corey Johnson, podem perder o lustre, numa cidade que vai emergir com cofres esvaziados pela queda de receita e uma possível fuga de moradores afluentes para subúrbios abastados.

A fórmula do forasteiro gestor pode emplacar de novo? O presidente da CNN, Jeff Zucker, sugeriu que pode molhar o pé nas águas políticas, porque “a cidade vai precisar de um prefeito muito forte”. Zucker, ó ironia, é o homem a quem Donald Trump deve a Presidência.

Quando dirigia a rede NBC, Jeff Zucker ressuscitou um Trump desmoralizado por uma série de falências, inventando o empresário como apresentador dos reality shows "Aprendiz" e "Celebridade Aprendiz", nada menos do que "infomercials" contínuos para os negócios da família Trump.

Um candidato Zucker pode descobrir que não há branqueador para esta mancha no currículo.

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