Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Coronavírus

Hora de se vacinar contra conspirações

Se criarem um Nobel de obscurantismo, candidatos fortes seriam o movimento antivacina e Mark Zuckerberg

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Esta coluna foi produzida especialmente para a campanha #CientistaTrabalhando, que celebra o Dia Nacional da Ciência. Ao longo do mês de julho, colunistas cedem seus espaços para abordar temas relacionados ao processo científico, em textos escritos por convidados ou por eles próprios. Divido o espaço com Gabriel Victora, imunologista da Rockefeller University de Nova York.

​As notícias do avanço de testes de vacinas contra a Covid-19 provocaram reações mistas e não o alívio planetário esperado diante da pior pandemia em um século. O que é compreensível para quem tentou manter a lucidez acompanhando o avanço do coronavírus em 2020.

Conspiração e saúde pública fazem dupla desde que o mundo enfrenta pandemias, mas o novo vírus de desinformação sobre a Covid-19 é uma mutação com o DNA da era digital, agravado pela politização da pandemia por autocratas como Jair Bolsonaro, Donald Trump e Vladimir Putin.

Se criarem um Nobel de obscurantismo, candidatos fortes à honraria seriam o movimento antivacina e Mark Zuckerberg, cuja plataforma trata a propagação viral de notícias perigosas para a saúde pública como liberdade de expressão.

Pesquisas de opinião recentes nos EUA revelam que até 50% dos americanos não têm intenção de se imunizar quando uma vacina chegar ao mercado. A desconfiança é especialmente acentuada entre jovens. E se a vacina chegar em tempo recorde e a imunidade morrer na praia porque a parcela da população inoculada não é suficiente para deter o vírus?

Como meus anticorpos de resistência ao pessimismo andam escassos, telefonei para o imunologista brasileiro Gabriel Victora, da Rockefeller University de Nova York.

Victora é ganhador da chamada “bolsa para gênios” da fundação MacArthur e, antes de assumir o posto em Nova York, era pesquisador do Massachusetts Institute of Technology. Ele começou destacando as boas notícias —quatro vacinas que superaram as fases 1 e 2 de testes.

“Meu otimismo”, explica Victora, “vem do fato de todas as quatro vacinas aparentemente gerarem anticorpos contra a proteína S do vírus e anticorpo neutralizantes”.

A proteína S é a chave que o vírus usa para entrar na célula e acessar a maquinaria celular para copiar a própria informação genética. Os anticorpos neutralizantes são responsáveis por “bloquear” essa chave.

O imunologista se diz um pouco surpreso com o alto índice de desconfiança na vacina por se tratar de uma situação diferente da que testemunhamos com a volta do sarampo nos últimos anos.

O sarampo havia se tornado invisível, o que pode ter contribuído para encorajar a recusa da vacina, com base em alegações não científicas de efeitos colaterais.

Victora explica que a comunidade de saúde pública esperava um índice menor de recusa porque a pandemia está em curso e sua gravidade é testemunhada por toda a população.

“É importante deixar claro”, lembra, “que a rapidez no avanço da vacina não implica em corte de etapas, 100% dos procedimentos estão sendo seguidos”.

Além disso, ele destaca, a vacina contra o novo coronavírus parece ser relativamente “fácil” porque o vírus apresenta pouca mutação.

Pergunto sobre notícias que começam a aparecer de casos de reinfecção de pacientes de coronavírus.

“Nós não temos dados quantitativos suficientes”, diz. “Os casos parecem raros. No momento, eu não me comprometeria com a noção de reinfecção.”

E a duração dos anticorpos, um tema que confunde o público e aumenta a desconfiança da eficácia de uma vacina?

O imunologista explica: “Quando se diz que o vírus gera uma resposta imune que não dura muito, isto não se aplica necessariamente à resposta para uma vacina".

"Pode ser que a reposta imune contra o vírus seja fraca ou de pouca duração, mas a resposta à vacina dure muito tempo. Não é hora de soar alarmes sobre o funcionamento da vacina.”​

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