Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

Plataformas digitais enfrentam Donald Trump

Empresas começam a limitar excessos do presidente mais mentiroso dos 240 anos da República

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Em tempos de contaminação física e digital, um curioso novo surto emergiu no Vale do Silício. Aquartelados no luxo de seu isolamento, executivos de plataformas digitais parecem ter decidido que é hora de praticar algum distanciamento social de seu mais famoso usuário.

Ele tem o proverbial dedo no botão nuclear, mas os dedos que usa no teclado do celular afinal começam a causar dor de cabeça a Donald Trump.

Na segunda-feira (29), duas plataformas puniram Trump e seus seguidores. O Reddit expulsou o principal subgrupo de apoio ao presidente por difundir mensagens de ódio baseadas em identidade e vulnerabilidade.

Presidente dos EUA, Donald Trump, mostra jornal a repórteres durante anúncio de decreto que reduziu proteções legais de empresas de tecnologia - Jonathan Ernst - 28.mai.2020/Reuters

O Twitch, popular plataforma de streaming de vídeo para gamers, suspendeu temporariamente a conta operada pela campanha de reeleição de Trump por motivo semelhante. O Twitch é uma subsidiária de Amazon, cujo fundador e maior acionista, Jeff Bezos, é alvo constante de ataques de Trump.

O presidente não tolera o jornalismo investigativo do jornal Washington Post, comprado por Bezos em 2013. ​

Veteranos observadores da psique presidencial acreditam que o rancor é mais profundo. Jeff Bezos é um bilionário real, o homem mais rico do mundo.

Trump, com suas declarações de renda escondidas do público e seis falências no currículo, teria sido, há tempos, rebaixado para a patente de ricos que começa com a letra “m”.

Será que a maré de impunidade trumpista online está virando? Há quem aponte para o exemplo dado por Jack Dorsey, o cofundador do Twitter, o primeiro mandarim tech a limitar os excessos do presidente mais mentiroso dos 240 anos da república.

Em maio, Dorsey mandou rotular tuítes de Trump que espalhavam conspirações sobre o sistema de votação por correio.

Outras plataformas aderiram à checagem de fatos iniciada por Dorsey. O Snapchat decidiu não mais promover o canal da campanha de Trump, depois que ele prometeu soltar cães ferozes sobre pacíficos manifestantes antirracistas em Washington.

Mais do que uma reação à dieta habitual de desinformação e propaganda oferecida há anos por Trump, a indignação com a morte do negro George Floyd, sufocado por um policial branco em Minneapolis, parece ter servido de freio motor para as plataformas, que se tornaram alvo de uma ampla campanha de boicote de publicidade com adesão crescente de marcas globais.

Ninguém está pagando um preço mais alto pela surdez ao sentimento nacional do que Mark Zuckerberg, o principal facilitador da eleição de Trump em 2016 e o mais visado pela campanha.

O boicote já custou dezenas de bilhões de dólares ao Facebook e à fortuna pessoal de seu fundador e CEO. A publicidade é responsável por 98% da renda do Facebook.

Em 2016, as redes sociais ajudaram a eleger um presidente responsável pela campanha mais escatólogica já feita por um republicano.

Racismo, misoginia e desprezo pela lei eram recados constantes do candidato que se dizia tão querido que poderia até assassinar alguém na 5ª Avenida sem perder apoio dos eleitores.

Mudou a consciência corporativa diante da onda de protestos? Ou a nova coragem dos que se escondem atrás da amoralidade de algoritmos pode ser explicada por outra consideração matemática?

Afundando nas pesquisas eleitorais, um possível presidente Pato Manco parece oferecer menos riscos aos executivos que tanto beijaram sua mão.​

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