Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Trump encoraja nova onda de protestos enquanto despenca nas pesquisas

Presidente decidiu que terrorismo racial é alternativa para mobilizar eleitores brancos

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Em novo recuo do governo Trump, agentes federais vão se retirar de Portland, cidade há dois meses cenário de violenta repressão a protestos raciais. Sob um acordo com a governadora democrata do Oregon, Kate Brown, os agentes começam a sair da cidade na quinta-feira (30).

Os protestos que começaram após o assassinato do homem negro George Floyd em Minneapolis, em maio, recuperaram intensidade no país, com ajuda de um torcedor: Donald Trump.

Agentes de forças federais guardam o fórum Mark O. Hatfield após atirarem gás lacrimogêneo em manifestantes durante um protesto antirracismo em Portland, no estado de Oregon
Agentes de forças federais guardam o fórum Mark O. Hatfield após atirarem gás lacrimogêneo em manifestantes durante um protesto antirracismo em Portland, no estado de Oregon - Caitlin Ochs - 29.jul.20/Reuters

A nova onda de protestos foi encorajada pelo presidente que despenca nas pesquisas, não quer e não sabe gerir a pior pandemia do século e não conta mais com uma economia para usar como vitrine na campanha de reeleição.

Encurralado e cercado de sicofantas que o protegem da realidade, Trump decidiu que o terrorismo racial é a alternativa para mobilizar eleitores brancos em novembro.

Começou espalhando uma mentira em linguagem de código racial, alertando que seu rival, o democrata Joe Biden, “acabaria com os subúrbios” se eleito. A acusação não tinha nada de sutil. É uma referência à origem dos subúrbios americanos no século 20: vastamente brancos e inacessíveis a proprietários de minorias raciais.

Como o imaginário do presidente estacionou na segunda metade do século passado, quando seu pai esbravejou insultos contra a chegada dos primeiros italianos ao bairro do Queens, onde foi criado, ele não percebeu que o perfil demográfico suburbano hoje é outro.

Na quarta-feira (29), Trump escancarou e tuitou avisando aos que vivem seu “Sonho de Estilo de Vida Suburbano” não devem se preocupar com desvalorização de suas casas porque ele rescindiu uma lei criada por Barack Obama contra a discriminação imobiliária. Assim, o “crime vai cair,” prometeu.

Os protestos que marcaram o mês de junho, além de quase sempre pacíficos, eram e continuam multirraciais. Pesquisas mostram Trump perdendo apoio na sua base predominantemente branca, especialmente entre mulheres.

E veio a solução da crise manufaturada. Usando os ataques a monumentos de figuras do lado perdedor da sangrenta história racial americana, Trump fez seu Departamento de Justiça montar em Portland, no estado do Oregon, um teste de marketing de campanha.

As reações à aparição de agentes federais armados, em uniformes de camuflagem, sem identificação, jogando manifestantes em carros igualmente não identificados foram lentas, talvez pela incredulidade.

A mídia americana fora da bolha trumpista demorou a colocar a intervenção federal em Portland no lugar certo, nas manchetes.

E a mídia controlada pelo nefasto bilionário australiano Rupert Murdoch deixou clara a cumplicidade com o que é uma forma inconstitucional de policiamento urbano em manchetes como a do tabloide nova-iorquino New York Post: “Cidades democratas explodem em noite de violência através da América”.

A hipocrisia do secretário de Justiça, William Barr, que se comporta como advogado pessoal do presidente e auxiliar da campanha de reeleição, foi exposta na terça-feira (28) num confronto entre ele e a deputada democrata Pramila Jayapal durante uma audiência na Câmara.

Jayapal cobrou do secretário o fato de ele não achar necessário intervir em Michigan, quando manifestantes armados e exibindo suásticas bloquearam acesso à Assembleia Legislativa do estado e pediram o linchamento da governadora, a democrata Gretchen Whitmer, por ter imposto uma quarentena durante a pandemia.​

As cenas de caos em Portland serão destaque nos comerciais de campanha, os manifestantes usados tal qual os extras que Donald Trump contratou, a US$ 50 por cabeça, para gravar seu anúncio de candidatura, em junho de 2015. ​

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