Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Eleições EUA 2020

Convenção republicana confirma que o partido foi reduzido a um culto

Evento usa Casa Branca para fins de campanha, numa quebra histórica de decoro político

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Sem plataforma ou visão de país, o Partido Republicano confirma, na semana de sua convenção, que foi reduzido a um culto de personalidade. O que está em curso até a noite da quinta-feira (27) é um reality show em que a primeira vítima, ficou claro logo na segunda (24), é a verdade.

O mentirômetro do jornal The Washington Post registrou mais falsidades na primeira noite de discursos do que em toda a convenção do Partido Democrata.

É difícil chamar de convenção o evento baseado em Washington que utiliza a Casa Branca para fins de campanha, numa quebra histórica de decoro político.

Em duas televisões, Mike Pompeo discursa
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, discursa na convenção nacional republicana durante viagem diplomática a Jerusalém - Liu Jie - 25.ago.2020/Xinhua

Os delegados se encontraram no local inicialmente escolhido para a convenção (Charlotte, na Carolina do Norte) na segunda à tarde, e confirmaram a nomeação de Trump.

Nem a obrigatória plataforma partidária os republicanos se deram ao trabalho de elaborar. Declararam num documento que a plataforma é basicamente a lealdade ao rei sol Donald Trump.

Baixa audiência e baixas expectativas marcam a semana da campanha presidencial republicana mais caótica das últimas décadas. Mesmo o breve interlúdio oferecido por Melania Trump, num discurso oposto ao tom extremista do presidente, em que demonstrou empatia pelas vítimas do coronavírus, deve ser interrompido pelo lançamento, no próximo dia 1º, de um livro de sua ex-assessora e ex-amiga íntima Stephanie Winston Wolkoff.

A autora afirma ter gravações em que a primeira-dama faz comentários derrogatórios ao marido e à filha mais velha dele, Ivanka Trump.

O repórter Bob Woodward lança, em setembro, seu segundo livro com revelações bombásticas sobre o presidente. “Rage” (raiva) se concentra no quarto ano do mandato de Trump, que já tuitou dizendo que é um livro repleto de mentiras, embora tenha lhe concedido 17 entrevistas de dezembro a julho.

Horas antes de começar a programação da terça-feira (25), Mary Ann Mendoza foi retirada da lista de oradores porque havia acabado de postar dezenas de tuítes com teorias conspiratórias antissemitas promovidas pelo grupo QAnon.

Além de ser membro do comitê consultor da campanha Trump, Mendoza ia dar seu testemunho anti-imigrante, como mãe de um policial que morreu vítima de um motorista embriagado, um imigrante sem documentos.

A exclusão de Mendoza pode ser explicada pelo fato de que os tuítes foram descobertos e divulgados pelo site Daily Beast, não porque promover conspirações seja algo condenado pelo presidente.

Na semana passada, Trump foi questionado por uma repórter sobre uma das teorias do QAnon, segundo a qual ele combate em segredo uma rede de tráfico sexual. Trump respondeu que ouviu dizer que são patriotas e “supostamente gostam de mim.”

Analistas de pesquisas ainda consideram possível a reeleição do presidente, apesar da vantagem consistente do democrata Joe Biden.

Mas há um certo clima de liquidação com deserções expressivas de republicanos que pedem voto para Biden. Um deles, Miles Taylor, que foi chefe de gabinete do departamento de Segurança Nacional sob Trump, conta que o presidente ofereceu indulto automático para funcionários do departamento que violassem a lei na repressão a imigrantes.

Taylor prevê mais deserções, inclusive a de um atual membro do governo que espera ser demitido quando denunciar Trump.

Um ex-assessor republicano da presidência da Câmara disse nesta semana para um repórter em Washington o que resume hoje o partido: “derrotar liberais e irritar a mídia”.

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