Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Eleições EUA 2020

O desafio da inclusão é destaque na convenção democrata

Esforço vai além da escolha de Kamala Harris como vice

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Diversidade e adversidade estão dominando a convenção do Partido Democrata em sua inédita versão virtual. O esforço para destacar inclusão, em contraste com o escancarado racismo de Donald Trump, vai muito além do simbolismo representado pela escolha da senadora Kamala Harris como vice na chapa de Joe Biden.

Em 2016, a disciplinada Hillary Clinton se indignava com a propaganda gratuita que seu adversário bombástico conseguia na mídia. Em 2020, com a adversidade trazida pela pandemia e a recessão econômica, o partido não quer que os eleitores esqueçam o homem que apontam como culpado.

Uma montagem em vídeo de 17 discursos curtos foi exibida no lugar do tradicional orador de destaque, na terça-feira (18), para promover o que os organizadores chamaram de “a próxima geração de líderes”.

Em tela de televisão, Ocasio-Cortez discursa
A deputada federal Alexandria Ocasio-Cortez discursa durante a convenção nacional do partido democrata, realizada virtualmente - Brian Snyder - 18.ago.2020/Pool/AFP

Ser escolhido orador de destaque na convenção já foi alavanca instantânea para projeção nacional, como sabia, em 2004, um desconhecido membro do senado estadual de Illinois chamado Barack Obama. Ele calibrou seu discurso para eletrizar a convenção que nomeou o fraco candidato John Kerry.

Ao pulverizar a oratória em múltiplos participantes, a liderança democrata evitou também comparações pouco lisonjeiras com o septuagenário centrista Joe Biden.

Uma pesquisa de opinião do Wall Street Journal com a rede NBC revelou, na semana passada, que 58% dos eleitores de Biden justificam seu voto como oposição a Trump, mais do que apoio ao candidato.

O fato é que, ao ungir Biden num campo de candidatos mais atraentes que, talvez, por serem tantos, se cancelaram, o Partido Democrata adiou, mais uma vez, a passagem do poder para uma nova geração.

E a estrela da ala progressista do partido, Alexandria Ocasio-Cortez, deu um claro recado ao não mencionar o nome de Biden quando discursou durante apenas um minuto e meio para endossar a candidatura de Bernie Sanders, uma formalidade a que o senador de Vermont, por ter acumulado um mínimo de delegados, tinha direito.

Mesmo tendo esclarecido para seus seguidores na rede social que vai fazer campanha pelo candidato do partido, AOC, como é conhecida a jovem deputada de Nova York, não disfarça o fato de que um presidente Biden não pode esperar uma lua de mel com sua ala do partido.

Chamou a atenção o fato de, na mesma noite da convenção que consagrou a candidatura de Biden, um ex-assessor e conselheiro próximo a AOC ser citado em entrevista ao jornal Washington Post prometendo que a vitória de Biden “não quer dizer que eles vão determinar o plano de jogo” na próxima eleição legislativa de 2022.

É quando, prometeu Corbin Trent, “vamos arrastar suas bundas nas primárias", uma referência a candidaturas progressistas para impedir a reeleição de moderados.

Em 2004, Obama lançou o tema da esperança que dominaria sua campanha vitoriosa de 2008, num discurso sobre unidade nacional com variações do refrão “Não existe América negra, branca, latina ou asiática. Só há os Estados Unidos da América”.

Na segunda-feira (17), Michelle Obama admitiu que a mensagem de seu discurso não seria ouvida por muitos. “Nós vivemos numa nação profundamente dividida, e eu sou uma mulher negra falando numa convenção democrata”, disse. Doze anos, dois Obamas, uma visão de país e uma desilusão.​

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