Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Eleições EUA 2020

Debate deixa claro que Trump está em campanha contra a eleição

Republicano continua inventando casos de fraude eleitoral e convoca apoiadores a praticar violência 'fiscalizando' urnas

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Se o mundo precisasse de mais um sinal do extraordinário declínio institucional em curso nos Estados Unidos, o debate da terça-feira (29) serviu para eliminar dúvidas. O presidente americano, o homem que vai jogar golfe acompanhado de códigos do arsenal nuclear, deixou claro que quer ser o presidente fascista de um clube privado.

A comissão responsável pela organização dos debates eleitorais está considerando mudanças depois do caótico bate-boca entre Joe Biden e Donald Trump, um espetáculo que não teve vencedor, só uma perdedora, a fragilizada democracia americana.

O presidente Donald Trump, durante entrevista coletiva na Casa Branca - Joshua Roberts/AFP

Há mais três debates até a eleição de 3 de novembro, um entre os candidatos a vice-presidente, Mike Pence e Kamala Harris, no próximo dia 7, e dois entre Biden e Trump nos dias 15 e 22 de outubro. A comissão, apartidária, declarou que vai adicionar “ferramentas” para garantir ordem nos próximos debates.

A escolha de Mike Wallace para moderador parecia ter preocupado o presidente, já que Wallace é empregado de Rupert Murdoch, na Fox News, o canal que se tornou uma lucrativa versão de TV estatal no governo Trump. Wallace é mais familiar na bolha trumpista que consome a propaganda da Fox, cuja concessão deveria ser questionada apenas pelas conspirações e mentiras disfarçadas de jornalismo que colocou no ar sobre Joe Biden horas antes do debate.

Wallace construiu fama de ser independente da pocilga de âncoras/propagandistas de Murdoch e já desafiou Trump em outras entrevistas. Mas ele deu sinais de que não havia se preparado para a noite quando afirmou que seu papel era ser invisível no debate. Não existe neutralidade quando o debatedor é um renegado como Donald Trump. Foi um desastre.

Wallace passou o período inicial dos 90 minutos impotente diante do presidente que não deixava Biden completar uma frase e o resto do debate tentando impedir Trump de sabotar qualquer chance de apresentar aos eleitores uma visão coerente de agendas de governo.

Mas o moderador merece crédito por um dos momentos mais reveladores da noite. Ele deu a Trump várias oportunidades de se distanciar do movimento de supremacia branca que vive uma primavera sob seu governo. Trump não só resistiu, como, mais uma vez, chocou o país mandando uma mensagem para os Proud Boys (meninos orgulhosos), um grupo extremista de ultradireita que promove abertamente a violência: “Proud Boys, stand back and stand by” (Proud Boys, afastem-se e esperem).

Em poucas horas, as redes de mensagens privadas do grupo exultavam com o momento “histórico” que já registrava um aumento expressivo de adesões.

O debate deixou claro que Trump não está em campanha contra um candidato democrata. Ele está em campanha contra a eleição. Continua inventando casos de fraude eleitoral e convoca apoiadores a praticar violência “fiscalizando” urnas.

A série de reportagens do New York Times revelando a escala de fraude fiscal do presidente confirma que ele tem algo mais em comum com seu devoto de Brasília. Ambos e suas famílias precisam de reeleição, não como um projeto de poder político, mas como um passaporte, uma garantia de segurança pessoal.

​No final de agosto, a presidente democrata da Câmara, Nancy Pelosi, defendeu a ideia de Biden não ir a debates, legitimando qualquer conversa com o presidente, e foi criticada. Quem prestou atenção ao comportamento de Trump nos debates com Hillary Clinton em 2016 há de compreender o argumento da deputada.​​

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