Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Eleições EUA 2020

Medo na reta final

Trump não disfarça suas fantasias de violência, declarando que é preciso 'patrulhar' locais de votação

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Vai piorar muito antes de melhorar. Na última semana, ouvi comentários semelhantes em conversas com pessoas em diferentes cidades dos Estados Unidos. E não se referiam à pandemia que, nos próximos dias, terá matado 200 mil americanos.

Meus interlocutores falavam do crescente medo coletivo e da expectativa de violência na eleição de 3 de novembro. Não é preciso informação privilegiada para temer algo que vem sendo claramente estimulado por Donald Trump, à medida que suas chances de se reeleger legitimamente diminuem.

O presidente Donald Trump durante comício com seus apoiadores, realizado em local fechado na cidade de Henerson, em Nevada
O presidente Donald Trump durante comício com seus apoiadores, realizado em local fechado na cidade de Henerson, em Nevada - Ethan Miller - 13.set.20/Getty Images/AFP

Trump não disfarça suas fantasias de violência, declarando que é preciso “patrulhar” os locais de votação para impedir a inexistente fraude eleitoral que alega acontecer desde 2016.

Vários estados americanos têm leis que proíbem presença policial perto das urnas para evitar intimidação. O cenário de incidentes provocados por civis trumpistas armados em torno da votação deixou de ser mera especulação.

As vendas de armas de fogo nos EUA estão batendo recordes. Só no mês de julho, 2 milhões de armas foram vendidas, e um comerciante da Pensilvânia comentou que, entre seus clientes, há homens e mulheres idosos que nunca haviam se registrado antes para obter o porte de armas.

Assessores do presidente têm desabafado reservadamente com repórteres sobre a insistência de realizar comícios, o que um classificou de “roleta russa”.

No domingo (13), em Nevada, milhares de eleitores sem máscaras se amontoaram num local fechado para ouvir Trump, pela primeira vez desde o comício de Tulsa, em junho, que foi associado ao aumento local contaminações e casos de mortes.

Por que o presidente americano põe em risco a vida de quem quer votar nele? Colocando de lado especulações de saúde mental, há um motivo prático para quem vê a pandemia mais letal do século como um obstáculo eleitoral.

A campanha Trump torrou a maior parte do US$ 1,1 bilhão (R$ 5,8 bi) que arrecadou e cancelou a compra de comerciais em estados onde a distância de Joe Biden nas pesquisas é apertada. Os comícios não estão sendo exibidos em rede nacional, mas são transmitidos por estações de TV locais, funcionando como publicidade grátis.

No recém-lançado livro “Rage” (raiva), o jornalista Bob Woodward transcreve uma conversa em que ele pergunta a Trump sobre o temor generalizado de que ele se recuse a desocupar a Casa Branca. “Bem, eu não, eu, eu não quero comentar isso, Bob” foi a resposta.

Trump tem repetido em entrevistas na rede Fox News que sua derrota, cada vez mais provável, será um sinal claro de fraude na eleição.

Grupos de ativistas da ala democrata progressiva têm se reunido para planejar como enfrentar diferentes cenários no caso de uma vitória apertada de Joe Biden. A campanha Biden alistou, desde julho, centenas de advogados e criou uma “unidade de litígio” para proteger a apuração e enfrentar a inevitável ofensiva de Trump nos vários estados em disputa.

Mas há uma interrogação importante a aumentar a tensão. Como a mídia tem se preparado para enfrentar o tsunami de falsas notícias que se forma, sob um presidente que exorta gritos de “mais 12 anos” em comícios?

Apesar de reconhecer, ao longo de um vasto espectro político, que a democracia americana enfrenta o maior risco em gerações, a mídia americana não parece coordenar esforços para a eleição, a exemplo do que fez o consórcio da imprensa brasileira para informar sobre a pandemia do coronavírus. Mau sinal.

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