Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
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Governo Biden

Justiça ou reconciliação é dilema da transição de poder nos EUA

Cresce debate sobre impunidade na possivelmente mais corrupta Presidência em 240 anos

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Os Estados Unidos têm dois presidentes neste dezembro sombrio. Um ocupante legítimo do cargo, que perdeu a eleição de novembro e estrebucha em transe nas redes sociais, repetindo que é vitorioso, apesar de ter sido derrotado 52 vezes nas ações judiciais que moveu, nas últimas semanas.

E o presidente eleito, que ainda não tomou posse, mas faz pronunciamentos diários sobre a pandemia, a economia ou a defesa. Joe Biden não tem o poder de fato, mas tem a atenção da maioria, no momento em que o país mergulha no pior inverno do último século.

A chegada da vacina não vai salvar dezenas de milhares de vidas nos próximos três meses.

O presidente americano, Donald Trump, entre abóboras num evento de campanha no Dia das Bruxas, na Pensilvânia
O presidente americano, Donald Trump, entre abóboras num evento de campanha no Dia das Bruxas, na Pensilvânia - Carlos Barria - 31.out.20/Reuters

À medida que a transferência de poder se aproxima, cresce o debate sobre o dilema da impunidade na possivelmente mais corrupta Presidência em 240 anos da República. E a escala da corrupção, na Casa Branca e no gabinete, só será conhecida quando o próximo governo fizer um inventário da ruína que herdar.

É um debate que espera o Brasil, já que o capitão presidente decidiu plagiar a opção pela morte em massa feita pelo ídolo americano que o ignora. O que é mais importante, promover reconciliação, nos escombros de duas Presidências dantescas, ou fazer justiça?

No caso americano, a coleção de provas é farta e deve aumentar. O impeachment é real, passou pela Câmara há um ano e só não removeu o presidente porque o Senado é controlado pelo partido que abriu mão da Constituição.

Biden tem sido cobrado em entrevistas sobre a intenção de levar seu antecessor à Justiça. Conciliador por temperamento, ele tem se livrado da pressão com um argumento irrefutável: o Departamento de Justiça é o único ministério que deve funcionar sem interferência política da Casa Branca, não é uma milícia vingadora. Mas Biden sinaliza também que a prioridade é superar a pandemia, recuperar empregos, cicatrizar as feridas do país.

Na terça-feira (8), um deputado da Luisiana da equipe democrata de transição anunciou que assessora o presidente eleito na criação de um cargo incomum. É uma espécie de embaixada para engajar, não uma nação estrangeira, mas o país dentro do país habitado por conservadores.

Biden se vê como unificador, um papel difícil de conciliar com um cenário em que o atual presidente, seus três filhos mais velhos e múltiplos altos funcionários do atual governo estejam na mira de intimações judiciais.

Mas presidentes americanos não controlam a Justiça de estados e cidades. Trump e família já são alvo de duas investigações. O procurador de Manhattan investiga o presidente por crime de fraude fiscal.

A procuradora do estado de Nova York conduz uma investigação civil que também envolve declarações de renda do presidente e pode arrastar a filha Ivanka Trump —até 2016, executiva da empresa da família.

Países que emergem de ditaduras ou traumas nacionais lidam de forma diversa com o acerto de contas.

Até hoje, a narrativa oficial americana era a do farol da democracia, apesar da profunda injustiça racial que só começou a ser enfrentada há meio século. Mas o país nunca teve um período de ruptura democrática intenso como o que viveu nos últimos quatro anos. O impulso de justiça e reparação enfrenta a realidade de uma população expressiva que votou por mais quatro anos de Trump.

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