Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
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Eleições EUA 2020 Governo Trump

O que sobrou do superpoder americano produziu uma chanchada de terror

Insurreição teria sido reprimida a tiros caso invasores do Congresso fossem negros

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Os escombros no Capitólio são o legado de Donald Trump. A traição da República é o legado de Donald Trump. Os tiros disparados no plenário, os feridos, os deputados agachados com máscaras de gás lacrimogêneo são a imagem do governo de Donald Trump.

Aposentem o termo colonialista “República de Banana”. O oxigênio das repúblicas de banana eram os interesses da superpotência do pós-guerra. Agora, o que sobrou do superpoder americano produziu uma variação, uma chanchada de terror nesta quarta-feira (6).

O país que tanto se armou, espionou e começou duas guerras depois do 11 de Setembro é governado pelo líder de um culto terrorista. O presidente passou semanas incitando sedição e crime, convocando 30 mil para marchar na capital e derrubar a eleição legítima de Joe Biden.

Como pode o presidente continuar circulando livremente na Casa Branca, com a cumplicidade de seu vice, arrastado às pressas quando presidia uma sessão conjunta do Senado para confirmar a eleição de Biden?

Qualquer pessoa que mora nos EUA desde o 11 de Setembro sabe que é impossível iniciar uma revolta em uma grande cidade americana sem a imediata interferência maciça de forças policiais. Como acreditar em imprevisto ou acidente na violência que o mundo testemunhou na capital?

A prefeita de Washington, Muriel Bowser, assustada com a escalada da retórica violenta de Trump, pediu reforços à Guarda Nacional na segunda-feira (4) e solicitou aos residentes para não se engajarem com a turba de extremistas que se dirigia à cidade, atendendo ao chamado do presidente.

No mesmo dia, veio o anúncio de que o Secretário Interino de Defesa, Christopher Miller, membro do rebotalho trumpista que sobrou no esqueleto de governo, teria aprovado o pedido.

Na quarta-feira, a Câmara de Vereadores do Distrito de Columbia, onde fica a capital, divulgou um comunicado revelando que o Pentágono havia negado o reforço da Guarda pedido pela prefeita.

Durante as primeiras horas de caos, imagens revelavam policiais passivos, observando o distúrbio fora de controle, revoltosos escalando os muros do Capitólio, quebrando vidraças, invadindo o plenário do Congresso. Guardas do Capitólio pediam socorro pelo rádio e vários policiais foram feridos.

É impossível não notar a ironia: horas depois de eleitores negros da Geórgia devolverem o controle do Senado ao Partido Democrata, abrindo caminho para a recuperação democrática da República e para o governo Biden implementar sua agenda; meses depois de eleitores negros abrirem caminho para a candidatura e a eleição de Biden, o país nem teve tempo de celebrar, porque uma minoria, predominantemente branca, começou uma insurreição que teria sido reprimida a tiros, caso os invasores do Congresso fossem negros ou marrons.

Durante três horas, Donald Trump assistiu pela TV ao que Biden chamou de assalto sem precedente à democracia americana. Covarde notório que é, começou a tuitar pedidos de calma, escrevendo que os policiais estavam “do nosso lado”, mas sem ordenar que seus milhares de jagunços se dispersassem.

No final, quem sabe se instado por um assecla assustado, o próprio presidente convocou a Guarda Nacional e gravou um vídeo mentindo a seus apoiadores. “Vão para casa,” pediu, enquanto repetia que a eleição foi roubada. Donald Trump é um criminoso, uma ameaça à segurança do país e, como detentor dos códigos do arsenal nuclear, uma ameaça ao planeta.

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