Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Descrição de chapéu drogas

Filho de Joe Biden narra dependência de drogas em livro de memórias

Hunter Biden virou espantalho favorito da direita trumpista durante corrida presidencial

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O filho do presidente dos Estados Unidos é viciado em crack. Isto mesmo —ainda que Hunter Biden não continue consumindo drogas, como quando o pai era vice de Barack Obama, ele teve uma arma apontada contra a cabeça ao tentar comprar qualquer coisa disponível num acampamento de moradores de rua.

Donald Trump sofreu o primeiro de dois processos de impeachment porque pressionou ilegalmente o presidente da Ucrânia a encontrar sujeira nos negócios do filho de Joe Biden com uma empresa de energia, para tirar o adversário democrata da corrida presidencial.

Mas o submundo de Hunter não passa por Kiev. É descrito em detalhes pelo próprio, no livro de memórias lançado nesta terça (6), "Beautiful Things" (coisas bonitas). O título é uma referência ao que Beau Biden, irmão de Hunter, disse, pouco antes de morrer de um tumor no cérebro, em 2015, lembrando que havia beleza na vida.

Hunter Biden, filho de Joe Biden, durante depoimento gravado para a convenção nacional do Partido Democrata
Hunter Biden, filho de Joe Biden, durante depoimento gravado para a convenção nacional do Partido Democrata - 20.ago.20/Convenção Nacional Democrata/Divulgação via AFP

O fato de Hunter Biden estar vivo surpreende quem lê o livro, elogiado por críticos pela bela escrita. Aos 51 anos, uma vida de dependência inaugurada quando tomou o primeiro copo de champanhe aos 8, ele narra a experiência que incluiu vários tratamentos e períodos longos de sobriedade.

A enorme atenção que o livro desperta nos EUA é previsível. Hunter virou o espantalho favorito da direita trumpista que explorou, no período dele como executivo da empresa ucraniana Burisma, o conflito de interesse —real— com o posto do pai. O caso foi investigado e não resultou em nenhuma incriminação do atual presidente americano.

Biden filho admite apenas que hoje não aceitaria a oferta do cargo, cujo salário de US$ 50 mil (R$ 280 mil) por mês permitiu um estilo de vida que incluía fumar crack no conforto do abastado hotel Chateau Marmont de Los Angeles.

O lançamento do livro foi precedido por entrevistas em que o autor tenta manter a dignidade em meio à contrição. Mas a melhor introdução ao pesadelo de Hunter e da família Biden foi oferecida numa conversa com outro dependente, o comediante e ator Marc Maron, um pioneiro dos podcasts, entrando na sua terceira década de sobriedade.

Ouvir a gravação de 90 minutos é entrar no mundo onde, como lembra Maron, a pessoa se desprende de qualquer compasso moral ou da realidade familiar. A realidade de Hunter Biden é uma família amorosa que foi sacudida pela tragédia em 1972.

Semanas depois da primeira eleição do Joe, Hunter, Beau e a irmã caçula Amy foram com a mãe Neilia comprar uma árvore de natal. O carro bateu num trator, Neilia e Amy morreram. Joe Biden prestou juramento como senador, em janeiro de 1973, no hospital em que Hunter e Beau se recuperavam do acidente.

​A tragédia uniu os irmãos. Beau era a estrela da família, condecorado por servir em combate no Iraque, eleito procurador do estado de Delaware e visto como futuro candidato a presidente. Beau levava Hunter a reuniões dos Alcoólicos Anónimos e era o norte do irmão.

A morte de Beau precipitou o mais recente mergulho de Hunter no álcool e nas drogas pesadas. A certa altura, com o pai ainda vice-presidente, Hunter levou sua fornecedora de crack para morar em sua casa.

Nada do que Hunter Biden fez como advogado e executivo se compara à corrupção da prole de Donald Trump, cujo acerto de contas com a Justiça ainda não aconteceu.

"Beautiful Things" oferece mais do que memórias. Vai também informar futuros historiadores do novo presidente, ao revelar exemplos da decência e do amor incondicional que definem o caráter de Joe Biden.​

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