Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Governo Biden Governo Trump

Escândalos do Serviço Secreto comprometem a segurança na Casa Branca

Trumpificação de agentes preocuparam a ponto de a maioria da equipe encarregada de proteger a família Biden ter sido trocada antes da posse

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Semanas antes da posse de Joe Biden, a equipe de transição do democrata ficou alarmada com uma descoberta, entre outras, sobre os desmandos de Donald Trump no governo federal.

Agentes do Serviço Secreto familiarizados com o presidente eleito, do período em que Biden tinha proteção como vice de Barack Obama, explicaram que havia uma perigosa trumpificação em curso dentro da agência de elite, cuja missão é definida por necessidade como apolítica. Com a eleição de Obama, em 2008, o número de ameaças a um político, antes da posse, foi multiplicado por quatro.

Agente do Serviço Secreto caminha dentro do terreno da Casa Branca, em Washington
Agente do Serviço Secreto caminha dentro do terreno da Casa Branca, em Washington - Joshua Roberts - 27.fev.21/Reuters

As revelações preocuparam a ponto de a maioria da equipe encarregada de proteger Joe, Jill e a família Biden ter sido trocada antes da posse. Um livro lançado na terça-feira (18) mais do que justifica as medidas da transição. Vale lembrar que parte do treinamento de um agente inclui jogar-se na frente do presidente e tomar o tiro, como fez Tim McCarthy, salvando a vida de Ronald Reagan, em 1981.

Em "Zero Fail: The Rise and the Fall of the Secret Service" (falha zero: a ascensão e a queda do Serviço Secreto), a repórter Carol Leonnig, do Washington Post, conta uma história de fracassos de liderança, venalidade e uma cultura masculina de vestiário que nos leva a perguntar o quanto a sorte é fator na sobrevivência de presidentes, após o traumático assassinato de John F. Kennedy, em novembro de 1963.

Depois da morte de JFK, o Serviço Secreto foi de 300 agentes para uma equipe de 7.000, encarregada de proteger, além de presidentes, vices e suas famílias, ex-presidentes e eventos como a Assembleia Geral da ONU, o Super Bowl e visitas como a do Papa.

Duas vezes, em 2014 e 2017, doentes mentais entraram na Casa Branca sob as barbas de mais de cem agentes do Serviço Secreto. O escândalo maior, em Cartagena, em 2012, não foi o bastante para o Serviço se tornar mais transparente e implementar reformas.

Depois de uma noite de bebedeira com prostitutas, 11 agentes encarregados da segurança de Barack Obama na Cúpula das Américas foram retirados da comitiva, quando a polícia colombiana foi chamada por uma prostituta que não conseguia ser remunerada pelo freguês.

A era Trump não inaugurou a tentativa de usar os agentes federais para fins políticos. Richard Nixon veio com a malandragem de “proteger” o então senador democrata Ted Kennedy, irmão caçula de sua nêmese JFK, antes de ele se declarar pré-candidato a presidente. Nixon queria recolher sujeira sobre o potencial rival e notório apreciador de uma esbórnia. Ted Kennedy percebeu e despachou os agentes.

Mas Trump, para surpresa de ninguém, foi mais longe. Ele se engraçou tanto por um dos agentes, Anthony Ornato, que o retirou temporariamente do Serviço Secreto e o colocou como vice-chefe de gabinete da Casa Branca. Na função, Ornato passou a trabalhar ativamente na campanha de reeleição e a organizar comícios com negligência criminosa que resultaram na contaminação e/ou subsequente quarentena de centenas de agentes.

Leonnig relata que membros do Serviço Secreto fizeram postagens na rede social apoiando a invasão do Capitólio e descreveram Trump como vítima de uma conspiração “liberal comunista” (sim, a ironia da contradição não penetrou os cérebros dos pneumáticos agentes).

O trumpista Ornato foi transferido de volta para o Serviço Secreto e hoje é encarregado de treinar novos agentes. Que os céus protejam a primeira mulher negra vice-presidente dos EUA.​

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