A covardia do valentão é previsível. O bolsonarista de varejo é como o bully de jardim de infância que atormenta o colega tímido na hora do recreio e, quando enfrentado, busca refúgio sob a saia da mamãe.
Mas, com o genocídio evitável em curso no Brasil, os valentões estão pedindo penico ao papai Estado. E o seu imposto é que paga pela proteção.
Os senadores e indecorosos empregados públicos Eduardo Girão (Podemos-CE) e Luís Carlos Heinze (PP-RS) acionaram nada menos do que a Polícia do Senado para intimidar o sociólogo e colunista da Folha Celso Rocha de Barros. Não há justificativa para a aberração na lista de atribuições desses meganhas legislativos.
Celso Rocha de Barros descreveu o óbvio que testemunhamos todo dia: bolsonaristas tumultuam a CPI mentindo sobre medicina e acobertando crimes cometidos nesta Presidência.
Escreveu que, quando levamos em conta cálculos de especialistas, podemos chegar a 1 milhão de mortos antes de domar a pandemia. Não é uma pedalada fiscal, é um crime contra a humanidade que devia garantir uma cadeira de réu no Tribunal Internacional de Haia.
Palavras muito mais fortes do que a do colunista têm sido usadas há mais de um ano. O que mudou? Os números do Datafolha? Está batendo o medo de ficar para trás no naufrágio do navio do qual outros ratos, inclusive um escolhido a dedo pelo chefe da quadrilha, ensaiam saltar?
A liberdade de imprensa é exceção, não a norma, ao longo da história. Há todos os sinais de que estamos entrando num dos períodos mais perigosos da combalida democracia brasileira, a caminho da eleição do ano que vem. O jogo vai ser pesado e imundo.
O número de mandantes e cúmplices de crimes atualmente nos três Poderes é de tirar o fôlego. Essa gente não vai botar pijama e ficar em casa esperando uma intimação judicial em 2023.
Assim como se uniu para higienizar a divulgação de dados sobre a pandemia, a nossa mídia vai precisar de coordenação, acima dos interesses de concorrência, para enfrentar a minoria obscena de motociclistas que celebra a morte da maioria, os passageiros de ônibus e trens, com uma parada aqui e ali para tentar linchar repórteres. É importante usar a imaginação e agir de maneira preventiva para enfrentar a deterioração das condições de trabalho.
Adivinhe quem foi descrito, em 2014, como o “maior inimigo da imprensa desta geração” por um jornalista ganhador de dois prêmios Pulitzer. Barack Obama. Discordo do epíteto, mas compreendo a indignação de James Risen, o repórter que revelou em livro um plano secreto da CIA contra o programa nuclear iraniano e passou sete anos sob ameaça de cadeia. O secretário de Justiça de Obama tentou forçar Risen a revelar a fonte, e ele recusou. No final, a ameaça foi retirada, em parte, porque o governo Obama conseguiu localizar, processar e condenar o agente da CIA responsável pelo vazamento.
Mesmo quando a democracia americana não estava sob o ataque instigado pelo gângster nova-iorquino derrotado em novembro passado, presidentes tentaram usar a máquina do Estado para intimidar jornalistas. Dá medo imaginar o que Richard Nixon teria feito com a tecnologia do presente.
Ele mandava o Leão americano auditar e investigar repórteres. Os invasores da sede do Partido Democrata, o crime que levou à renúncia de Nixon, discutiram um plano para assassinar o popular colunista Jack Anderson. Os postes do consultório do crime estão nervosos. Vai piorar.
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