Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Desgaste na relação entre policiais e comunidades deve agravar crimes violentos nos EUA

2020 foi o ano mais violento desde início do milênio, mas nova rotina depende de reabertura pós-pandemia

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Chegou ao fim a histórica queda dos índices de crime nos Estados Unidos. 2020 foi o ano mais violento no país desde o começo do milênio. Mas só com o início do verão e a reabertura de atividades permitida pela vacinação em massa vamos ter uma ideia de como será a rotina que cidades como Nova York não enfrentam desde os anos 1990.

Como sempre, um sucesso tem vários pais, enquanto um fracasso é órfão. O sucesso inicial no combate ao crime em Nova York na gestão de Rudolph Giuliani, o ex-prefeito e hoje bufão trumpista sob investigação criminal, foi tão estudado que Giuliani demitiu o então comandante da polícia, William Bratton, morto de ciúmes porque ele havia sido capa da revista Time.

Manifestantes durante vigília no Brooklyn, em Nova York, devido a mortes de negros em casos com armas de fogo
Manifestantes durante vigília no Brooklyn, em Nova York, devido a mortes de negros em casos com armas de fogo - Eduardo Munoz - 28.abr.21/Reuters

Explicações para a alta na violência variam por regiões, num país que se recusa a enfrentar a epidemia de tiroteios como um problema de saúde pública e a posse de armas de fogo é regulada de maneira diferente até por cidades dentro de um mesmo estado.

O verão de 2020 foi marcado pelos protestos contra a morte do negro George Floyd, asfixiado por um policial branco. Se o policiamento agressivo e o alto índice de encarceramento iniciado no governo de Bill Clinton atingiram desproporcionalmente as minorias e a população de baixa renda, elas foram também especialmente beneficiadas pela melhora na segurança pública.

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O verão que começa neste mês chega com a previsível distribuição desigual da violência, concentrada em bairros mais pobres e segregados. A nova onda de crimes deve ser agravada pelo desgaste nas relações de policiais com as comunidades que patrulham. Parte da receita do combate ao crime em Nova York, nas duas últimas décadas, quando a cidade chegou a ser a metrópole mais segura do país, foi o investimento pesado em relações comunitárias.

Perto da rua onde moro, no bairro que concentra a maior população latina de Nova York, é comum delegacias promoverem eventos especiais de rua, além de reuniões mensais com grupos de moradores.

A explosão de revolta sob a bandeira do movimento Black Lives Matter e a multiplicação de casos notórios de violência policial parecem ter rompido um ciclo de confiança que nunca foi alta entre a população negra e marrom. Muito se comentou sobre um ensaio de operação tartaruga pela polícia nova-iorquina quando começaram os protestos, em junho passado.

Além das vidas perdidas, a alta dos crimes já começa a fazer vítimas na política eleitoral. Crises de segurança pública são acompanhadas de endurecimento conservador no público e as eleições primárias de Nova York, que começam nesta semana, refletem essa mudança na posição de candidatos democratas a prefeito nas pesquisas. Não há candidato republicano aqui com chance de se eleger prefeito neste ano.

Um dos favoritos, no momento, é o ex-policial Eric Adams, que defende práticas controversas, como a volta das patrulhas de policiais à paisana. Já a professora Maya Wiley, uma progressista com vasta exposição na mídia porque era comentarista de TV a cabo, teve dificuldade de fazer sua candidatura decolar, com um discurso de justiça social e promessas de combater violência policial.

Mas Wiley entra na reta final com mais vento pelas costas, na forma do endosso de Alexandria Ocasio-Cortez, a estrela da esquerda do Partido Democrata. A eleição continua indefinida, mas a maioria dos eleitores nova-iorquinos tem uma certeza: o crime vai subir, junto com a temperatura.

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