Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Governo Trump

Invasão do Congresso dos EUA deve servir como alarme ao Brasil

Negacionismo republicano em relação a Trump deveria provocar medo nos colaboracionistas de Brasília

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A mal organizada tentativa de golpe de Estado que levou à invasão do Capitólio, em Washington, está longe de ser um capítulo encerrado nos 233 anos de regime constitucional americano.

Há quase 14 mil horas de vídeo da insurreição, captados por câmeras internas ou usadas nos uniformes de policiais, e boa parte ainda não foi liberada para o público. Quem acompanhou ao vivo a invasão no dia 6 de janeiro viu cenas de caos, a maioria captadas por equipes de TV ou celulares da tropa de choque trumpista.

Imagens feitas por profissionais, em planos abertos, mostravam a baderna, mas a extensão da violência praticada contra legisladores e policiais vai adquirindo outra dimensão, à medida que vêm a público vídeos inéditos daquela tarde de puro terror. Antes mesmo de conseguir entrar no edifício do Capitólio, os invasores atacaram a pequena força policial com violência homicida.

Um grupo de 16 grandes empresas jornalísticas move ação para forçar o Departamento de Justiça a liberar todos os vídeos que, no momento, são acessados por inúmeros tribunais federais, em que quase 500 invasores enfrentam processos.

Agora que o aspirante a ditador no Planalto, removido do Exército por mentir sobre seu plano de colocar bombas em quartéis, confessa querer um “6 de janeiro” para chamar de seu, recapitular a sequência de erros e omissões que permitiram o ataque grotesco para anular a eleição americana causa ainda mais alarme.

As instituições funcionaram nos EUA? Não. Indivíduos agiram heroicamente para derrotar os golpistas. Tudo aconteceu por um triz. A preservação da urna com os votos eleitorais, necessários para certificar a eleição de Joe Biden; a retirada, sob escolta, do vice-presidente Mike Pence, 60 segundos antes de o plenário do Senado ser invadido por trumpistas que pediam seu enforcamento; o bravo policial Eugene Goodman que distraiu a multidão e arriscou a própria vida para proteger senadores.

Lá Fora

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O negacionismo do Partido Republicano que, com exceções, ignora a gravidade do 6 de janeiro, dos crimes cometidos e covardemente omite o papel do incitador-em-chefe da rebelião, Donald Trump, deveria provocar medo nos colaboracionistas de Brasília. Gente que espera passar uma borracha no passado recente e ser recebida de volta em círculos onde papo de milícia, rachadinha e tráfico de cloroquina é coisa de marginal.

A cada novo detalhe revelado sobre a conspiração montada por capangas de Trump para mantê-lo no poder descobrimos o quanto a imperfeita experiência democrática americana esteve ameaçada. Está claro que o ex-presidente tentou usar o Departamento de Justiça como uma milícia contra políticos democratas, jornalistas e até comediantes que o ridicularizavam.

Quando tramou a brancaleônica operação “Beco sem saída” para plantar bombas-relógio em quartéis, em 1982, o renegado medíocre oficial do Exército não tinha o aparato do governo federal, a obediência das Forças Armadas e a cumplicidade da liderança do Congresso à sua disposição. Já estamos encurralados no beco de outubro de 2022.

O 6 de janeiro fez muitos aqui lembrarem um discurso de Abraham Lincoln sobre a cidadania, em 1838. Lincoln alertou contra as forças destrutivas, na então jovem república constitucional. Disse que o perigo não vinha de invasores externos e que, se a democracia fosse destruída, seria por suicídio.

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