Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Governo Biden

Comunicação inconsistente afeta combate à pandemia no governo Biden

Gestão desperdiça tempo, enquanto especialistas se contradizem em entrevistas

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O presidente Joe Biden fez um apelo enérgico aos governadores republicanos da Flórida e do Texas para não obstruírem as medidas de controle da nova onda de coronavírus, que é dominada pela variante delta. Os dois estados concentram um terço de todas as novas infecções nos EUA.

Biden demonstrou frustração com a maneira como os republicanos sabotam as mensagens de combate à pandemia, usando o Poder Executivo estadual para bloquear a obrigatoriedade de máscaras ou punindo empresas que exigem comprovante de vacinas.

Mas o presidente americano tem outra fonte expressiva de mensagens inconsistentes no próprio quintal. O CDC, Centro de Controle de Doenças, uma das mais prestigiadas agências federais de saúde do mundo, tem feito sua parte para contribuir com a confusão do público exaurido pelo novo retrocesso provocado pela superinfecciosa variante delta.

Placa anuncia exigência de máscaras para entrar em teatro na Califórnia, nos EUA - Valeria Macon/AFP


Desta vez, não podemos jogar a culpa no colo de um presidente destrambelhado que, em abril de 2020, pediu à sua equipe de epidemiologistas para ver se injetar água sanitária no corpo seria um bom tratamento contra Covid-19. Biden chegou a Washington acompanhado da nata da nata dos profissionais de saúde pública e tem como chefe de gabinete Ron Klain, o homem que dirigiu o combate à epidemia de ebola sob Barack Obama, um assessor com poderes que inspiraram o apelido de primeiro-ministro.

Mas o presidente Biden tem que combater uma pandemia cujos fatos mudam com rapidez e com um conhecimento médico disponível ainda bastante limitado.

É a primeira catástrofe global de saúde em que, além de combater o vírus, o governo enfrenta a máquina de mídia da ultradireita que isola grande parte do público numa bolha de desinformação.

Desde o começo da quarentena o CDC teve tropeços na comunicação. O mais óbvio foi a instrução inicial para o público evitar máscaras, uma tolice para qualquer leigo racional que há de ter provocado infecções e mortes.

Em maio deste ano, já era claro que a variante delta era exponencialmente mais infecciosa e daria um freio violento na volta à normalidade. Na contramão do bom senso, o CDC emitiu novas instruções na segunda semana de maio, relaxando a exigência de uso de máscaras pelos vacinados em locais fechados num momento em que a resistência à vacina crescia no país. Como era previsível, a volta das máscaras é mais difícil de ser implantada.


Também em maio, o CDC suspendeu inexplicavelmente o monitoramento nacional de infecções entre os vacinados, um fenômeno assustador da nova onda. O governo desperdiçou tempo precioso, deixando a impressão de que cedia a considerações políticas, a uma narrativa de recuperação econômica.

Diferentes protagonistas do governo Biden se contradizem semanalmente em entrevistas. O mais proeminente deles, Anthony Fauci, teve que esclarecer declarações confusas da diretora do CDC, Rochelle Walensky sobre o uso de máscaras e o avanço da variante delta, o que reforça o ceticismo dos quase 100 milhões de americanos que escolheram não se vacinar.

Aliás, a única certeza, no momento, é cortesia desses militantes pró-morte. Na quarta-feira (4), o doutor Fauci avisou: o número de infecções nos EUA deve dobrar em duas semanas e ajudar a propagação da próxima variante –mais infecciosa e um desafio às vacinas disponíveis.

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