Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Como proteger o público de governantes nas redes sociais?

Escala e velocidade da desinformação são riscos inegáveis, e debate está em punir ou banir os responsáveis

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Presidentes que postam mentiras, com risco à segurança ou à saúde pública, devem ser excluídos das redes sociais operadas por empresas privadas?

Senadores brasileiros na oposição argumentam que Jair Bolsonaro tem cometido abusos além dos que provocaram a expulsão de Donald Trump depois da invasão terrorista do Capitólio.

Trump testa seu exílio pela segunda vez na Justiça, com uma ação na Flórida contra o Twitter. A plataforma baniu para sempre o ex-presidente americano dois dias após a tentativa de golpe de Estado do dia 6 de janeiro, para impedir mais "incitamento à violência".

Facebook e Instagram mantêm Trump banido até pelo menos o final de 2022, isto é, até depois da eleição legislativa do ano que vem que ele se esforça regularmente para tumultuar, mas com repercussão emudecida pela falta do megafone.

Conta do Twitter do ex-presidente dos EUA Donald Trump é exibida em um telefone celular
Conta do Twitter do ex-presidente dos EUA Donald Trump é exibida em um telefone celular - Oliver Douliery - 10.ago.20 / AFP

O ex-presidente alega que o Twitter viola, além de leis estaduais que regulam as redes na Flórida, a Primeira Emenda da Constituição, que protege a liberdade de expressão. Analistas constitucionais acham que a ofensiva tem pouca chance de sucesso, porque o texto protege contra a censura imposta por governos, não por empresas privadas.

Em dezembro de 1791, quando a Primeira Emenda era adotada à luz de velas, os fundadores da República não podiam imaginar um país com um chefe do Executivo mentindo para 60 milhões de seguidores.

A emenda sofreu testes sucessivos em tribunais, especialmente no século 20, mas a Presidência Trump —cujas mentiras compiladas diariamente passavam de 30 mil no final do mandato— atraiu novo debate sobre seus desafios constitucionais na era digital.

Com o republicano reduzido a emitir comunicados incoerentes para uma plateia reduzida, a rede Fox News, a mais assistida do país, é hoje a principal usina diária de desinformação extremista e mentiras sobre a pandemia e a eficácia de vacinas. O que fazer com um horário nobre recheado de Alexandres Garcias —menos senis, mas não menos velhacos— que chega a 2,3 milhões de pessoas nos EUA?

Se a solução for ferir a Primeira Emenda, ela não deve encontrar apoio entre juristas e historiadores constitucionais. Uma ação contra a Fox, movida por uma ONG de proteção à ética em jornalismo, no estado de Washington, usou o argumento de "fraude contra o consumidor" durante a pandemia e foi sumariamente derrotada em 2020 por ferir a liberdade de expressão.

Mas há discursos que a Primeira Emenda não protege, como incitamento (é proibido gritar "fogo!" num teatro lotado) ou difamação.

Ações judiciais em curso que tratam de desinformação ainda podem ferir a bilionária família Murdoch, proprietária da Fox, onde mais dói, o bolso. Foram movidas por empresas de urnas eletrônicas: a Smartmatic, que pede US$ 2,7 bilhões por alegações falsas sobre um suposto roubo de votos para favorecer o candidato legitimamente vitorioso, Joe Biden; e a Dominion Voting Systems, que pede US$ 1,6 bilhão em alegação semelhante.

Especialistas duvidam de indenizações em bilhões. Mas pelo menos uma vitória envolvendo soma expressiva seria um alerta para a mídia de ultradireita que vende aos anunciantes trolagem como jornalismo?

A escala e a velocidade da desinformação hoje são riscos inegáveis. Mas o zelo por banir governantes de praças públicas digitais deve passar por um filtro simples. Você gostaria de conferir a qualquer um, repito, qualquer um dos atuais pré-candidatos brasileiros à Presidência o poder de definir o que é jornalismo?

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