Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Coronavírus

Nova York começa experiência de vacina obrigatória mais abrangente dos EUA

Quem sabe a linha dura da cidade não se mostra um exemplo a outras metrópoles em 2022

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A cidade de Nova York, após se tornar um dos primeiros epicentros globais da Covid, tomou a dianteira em medidas preventivas e impôs restrições que líderes republicanos não ousaram decretar ou sabotaram. Hoje, americanos em estados controlados por republicanos têm 50% mais chance de morrer de Covid.

E, apesar de a variante ômicron ter dominado manchetes e movido mercados, ainda é a delta que continua a matar nos EUA. Como acontece desde que o país sofreu o choque da quarentena decretada às pressas em março de 2020, política e saúde pública continuam uma dança perigosa que beneficia poucos.

O prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, durante evento na cidade
O prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, durante evento na cidade - Kena Betancur - 31.mai.21/AFP

Não foi diferente quando o prefeito democrata Bill de Blasio anunciou uma súbita ampliação da exigência de vacinação em Nova York, na segunda (6). Em meio à gritaria que recebe qualquer medida obrigatória anunciada pelo prefeito impopular, de partida do cargo no próximo dia 1º, chamou a atenção a forma, além do conteúdo do anúncio.

De Blasio não convocou a imprensa para uma entrevista coletiva, o que permitiria a repórteres do setor de saúde explicar em detalhes os prazos e os afetados. Também não esperou o briefing diário das 10h às 11h, transmitido ao vivo por estações de TV e rádio locais, que se transformou numa rotina da pandemia.

O prefeito surpreendeu os âncoras de um talk show nacional pouco depois das 7h e disse que Nova York se tornaria a primeira cidade americana a exigir vacinação de todos os funcionários do setor privado, além de comprovante de imunização de crianças a partir de cinco anos para frequentar locais fechados.

Assim, a partir da próxima semana, turistas que marcaram viagens com crianças para Nova York podem ser barrados em espetáculos da Broadway, restaurantes, museus e outras atrações. O clamor da indústria de hospitalidade foi imediato na cidade, que investe dezenas de milhões de dólares em promoções para trazer turistas de volta.

O democrata foi acusado de usar o talk show ao qual o resto do país assiste para turbinar sua esperada candidatura ao governo do estado de Nova York, em 2022. Hoje, as chances do prefeito não parecem melhores do que as de Jair Bolsonaro ser agraciado com um Nobel da Paz.

A impopularidade não impediu de Blasio de lançar uma pré-candidatura quixotesca à Presidência em 2019, que ele abandonou meses antes da primeira primária eleitoral, quando atingiu um número redondo nas pesquisas –0%.

Mas uma observação não científica das reações à possibilidade de ver crianças chorando na bilheteria de "Rei Leão" ou banidas da rede favorita de hambúrgueres sugere que os nova-iorquinos perderam a paciência com negacionistas da vacina e com a turma que confunde liberdade com direito de infectar e arriscar a vida dos outros. De Blasio, muitos dizem, fez a coisa certa, não importa a motivação.

Sim, há legítima preocupação de pequenos empresários —a espinha dorsal da economia local— de garantir que a ordem da prefeitura seja cumprida a partir do dia 27, já que a cidade enfrenta o duplo desafio de escassez de mão de obra e um público cada vez mais audacioso em provocar incidentes violentos em razão da exigência de máscaras ou de comprovantes de vacina.

Quem sabe se a linha dura de Nova York no combate à pandemia neste inverno americano pode se mostrar um exemplo para outras metrópoles na primavera de 2022?

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