Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

Risco de uma guerra civil nos EUA é real, alerta historiadora

Em novo livro, Barbara F. Walter defende que americanos não vivem mais em uma democracia completa

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Como seria uma guerra civil em solo americano neste século 21? Essa pergunta faz sentido? O assunto não é simples, mas as respostas são assustadoras e podem ser encontradas em um livro lançado neste mês.

A historiadora Barbara F. Walter estuda guerras civis no mundo há mais de 30 anos. Nunca se debruçou sobre a instabilidade política nos EUA. Até recentemente, seu país era o primeiro nas listas de democracias mais antigas do mundo. Não é mais, especialmente depois da tentativa de golpe de Estado com a invasão do Capitólio.

Apoiadores do então presidente Donald Trump invadem o Capitólio dos EUA em janeiro de 2021 - Leah Mills - 6.jan.21/Reuters

Walter começou, em 2018, o estudo para o livro "How Civil Wars Start: And How to Stop Them" (como as guerras civis começam: e como detê-las). No período, a professora da Universidade da Califórnia tinha sido recrutada pela CIA para não estudar os EUA. A agência americana de inteligência a colocou na Força-Tarefa sobre Instabilidade Política, cujo objetivo é identificar países sob risco de mergulhar em violência política.

A experiência convenceu a historiadora, bem antes do 6 de Janeiro, de que seu país já tinha avançado para o segundo estágio considerado propício a uma guerra civil. Os estágios podem ser encontrados online, já que a CIA publicou a atualização de seu Guia da Insurgência.

O primeiro estágio é organizacional —extremistas se reúnem em torno de causas—, e a eleição de Barack Obama, em 2008, foi uma bonança para a formação de milícias brancas. No segundo, grupos começam a se armar, e episódios de violência são tratados pelo governo como incidentes isolados. O ataque ao Capitólio fez alguns analistas americanos especularem se o país já tinha passado para o terceiro estágio, o da insurreição aberta, mas Walter diz acreditar que não chegamos lá.

Ela alerta para duas tendências alarmantes em curso. O país já é o que ela chama de anocracia, ou seja, não mais uma democracia completa, mas ainda não uma autocracia consumada. Se continuarem os esforços ativos do Partido Republicano para suprimir o voto de minorias prestes a se tornar maiorias e se a ultradireita tentar de novo roubar uma eleição, vai ser difícil tomar o caminho de volta.

A Guerra Civil (1861-1865) que os americanos estudam na escola é o conflito mais sangrento da história do país. O confronto entre a União federativa do norte e a Confederação escravagista do sul deixou 750 mil mortos.

A guerra civil do século 21, escreve Walter, deve se assemelhar mais a uma de guerrilha, com uso de táticas terroristas. Apesar de ter estudado a violência política em países diferentes, como Líbia e Irlanda do Norte, a historiadora explica que nota dois fatores comuns para alimentar uma guerra civil. O mais importante é o país ser uma democracia parcial (ou anocracia). O segundo é a população começar a rachar em grupos religiosos, étnicos ou raciais e formar partidos políticos que visam excluir os outros.

Só os líderes republicanos como o senador Mitch McConnell poderiam agir para isolar a violenta franja evangélica racista que corrói o partido.

Mas o púlpito mais visível não está sendo usado com a urgência necessária por seu ocupante. Joe Biden habita a fantasia da América excepcional, nega que a violência e o terrorismo são parte integral da história do país —como se vê em grupos como a Ku Klux Klan. Ele não consegue denunciar o fato de que uma parcela expressiva dos eleitores americanos não quer mais viver numa democracia. Quer a supremacia da minoria.

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