Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia

Putin é um gângster com o maior arsenal nuclear do planeta nas mãos

Poder estatal, com participação de políticos locais, é a gangue predominante na Rússia hoje

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A suspensão da venda de moedas estrangeiras e as novas medidas de controle de capital na Rússia vão fazer a alegria de um segmento da população russa: o crime organizado. O choque imposto pelas sanções em represália à invasão da Ucrânia deve facilitar a volta de mafiosos que foram enquadrados há 20 anos pelo presidente e ex-espião.

Chefes de Estado instáveis com o dedo no botão nuclear são motivo constante de temor planetário, mas Vladimir Putin, no controle do maior arsenal existente, com cerca de 6.000 ogivas, é particularmente assustador. Ele está encurralado e não pode voltar atrás da catástrofe humanitária que criou em duas semanas.

Cartaz com o rosto do presidente Vladimir Putin em ato da ultradireita sérvia em Belgrado de apoio à invasão russa na Ucrânia - Andrej Isakovic - 4.mar.22/AFP

A carreira de gângster do presidente russo começou ainda na antiga KGB, quando, estacionado em Dresden, na antiga Alemanha Oriental, ele pedia aos terroristas do lendário grupo Baader-Meinhof para roubar caixas de som.

Putin se tornou assessor do prefeito da sua São Petersburgo natal, em 1991, não por talento, mas por causa da conexão com a KGB, cujos agentes ainda eram presença obrigatória nas engrenagens do poder pós-União Soviética. Uma de suas atribuições na prefeitura era administrar relações com a poderosa gangue Tambo da cidade, que já era conhecida pela presença do crime organizado.

Ele havia testemunhado a queda do Muro de Berlim de seu posto em Dresden. Voltou para casa desmoralizado e pobre, tendo que levar a mulher e as filhas para morar com seus pais, aos 40 anos.

Mal chegou ao governo municipal, Putin foi investigado por montar um esquema criminoso para se aproveitar da falta de alimentos que o Kremlin temia ver transformada em pólvora para protestos em massa. Obteve licenças de exportação de matérias-primas avaliadas em US$ 100 milhões em troca da importação da comida que nunca chegou.

Depois levou para Moscou esse contrato social —tolerar criminalidade, desde que o poder político não seja contestado— e o aplicou aos oligarcas que protagonizaram o faroeste de saques do país logo após o colapso da URSS.

Com poucas exceções, uma delas paga com assassinato, oligarcas que hoje têm seus superiates apreendidos em portos europeus entraram na linha. As novas mansões em Londres ou em Nova York foram combinadas com presentes ao don Vito Corleone eslavo, talvez um dos homens mais ricos do mundo.

Os afagos incluiriam um palácio de US$ 1 bilhão construído na costa do mar Negro e o iate Olympia, de US$ 50 milhões, que o agora choroso Roman Abramovich, pressionado para colocar o Chelsea à venda, teria dado como presentes ao padrinho Vladimir.

A cleptocracia da elite russa de certa forma substituiu a das gangues que emergiram nos anos 1990 com a dissolução da União Soviética. Em vez de criminosos trocando tiros na disputa por territórios, o poder estatal, com participação de políticos locais, é a gangue predominante.

Parte do apoio popular que Putin recebeu nas urnas se deve à firmeza com que domou a anarquia social pós-URSS na década passada e controlou as guerras com o crime organizado. Mas a questão é até que ponto o crime organizado contribuiu para dar forma à Rússia moderna.

Há 20 anos, governos ocidentais se alarmavam com a possibilidade de armas nucleares caírem nas mãos de criminosos. Não notaram que o mais poderoso deles havia se mudado para o Kremlin.

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