Deve haver limite de idade para se eleger presidente? No Brasil e nos EUA, as constituições exigem idade mínima de 35 anos para disputar a Presidência, mas não impõem aposentadoria eleitoral compulsória. A americana foi escrita em 1789, quando a expectativa de vida no país era de 57 anos.
Como lidar com a ambição eleitoral de políticos idosos se eles têm pulso, batimento cardíaco, mas a acuidade do personagem de Ronald Golias na "Praça da Alegria"?
Em 1841, o presidente William Harrison se encharcou num temporal, pegou uma gripe e morreu, um mês depois da posse, aos 68 anos. Na década seguinte, o presidente Zachary Taylor expirou aos 65, cortesia de uma disenteria aguda, doença comum na Washington que tinha esgotos a céu aberto.
A expectativa de vida nos EUA hoje é de 77,8 anos. Joe Biden completa 80 em novembro e não arreda o pé de tentar a reeleição em 2024. Ele está convencido de que é o único capaz de derrotar Donald Trump, 76.
Um presidente em exercício é o candidato incontestável do partido para concorrer ao segundo e último mandato. A popularidade de Biden mergulha nas pesquisas, mas sua vice é ainda mais impopular. As pesquisas não registram qualquer entusiasmo por uma chapa encabeçada por Kamala Harris em 2024.
Se Biden desistisse de tentar um novo mandato aos 82 anos, haveria uma fila de aspirantes prontos para voltar ao ringue. É importante separar o ruído da propaganda da mídia de direita, que não larga o osso do sarcasmo sobre o presidente idoso, do homem real trabalhando no Salão Oval.
Múltiplos testemunhos registram Biden engajado e no controle dos desafios hercúleos que seu governo enfrenta, perfeitamente capaz de exercer o mandato atual. Mas a Presidência envelhece, e governar os EUA não é o mesmo do que governar um principado europeu.
A campanha de sussurros está à toda, já que debater idade abertamente rende acusação de etarismo. Aliados de Biden fornecem citações anônimas para a imprensa política sobre seus sinais de fragilidade.
Não é preciso trabalhar na Casa Branca para perceber a diferença do Biden que concorreu a vice de Barack Obama, em 2008, do presidente de 2022. Quando ele fala em público, a dificuldade de se concentrar é evidente. É doloroso vê-lo enveredar verbalmente por estradas vicinais enquanto o público presente aguarda, respeitoso, o retorno à rodovia do discurso preparado.
Na semana passada, o ex-presidente Lula, 76, prometeu não se candidatar em 2026. Apesar das piadas nada presidenciais que ele fez sobre seus apetites, para defender a candidatura por um partido que cortou o oxigênio para lideranças jovens, Lula deve entender que a promessa de não tentar de novo aos 80 anos lhe dá vigor e mais liberdade num eventual mandato a partir de janeiro.
Os jovens americanos foram responsáveis pela participação maior nas urnas em 2018 e 2020. No momento, a aprovação de Biden entre jovens de 18 a 24 anos é de 22%. É difícil imaginar que esses eleitores vão continuar mobilizados se a escolha em 2024 for entre Biden e Trump.
O que um candidato Biden poderia conseguir, se as midterms forem desastrosas para o seu partido, é ajudar a eleger um Trump jovem, um fascista mais disciplinado e educado em Yale e Harvard. O governador da Flórida Ron DeSantis, 43, é o segundo preferido dos republicanos.
E os números dele não param de subir.
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