Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

Prisão é cada vez mais provável para Bannon, o cafetão dos trumpistas

Assombrado pelo macacão laranja, aliado de Trump chegou a voltar atrás, mas foi tarde

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No final, Steve Bannon pode acabar preso. É isso mesmo, o tarefeiro ideológico do deputado Bannoninho, o minion que não sabe a diferença entre grelhar e fritar (hambúrgueres), esbarrou num obstáculo que costuma ignorar —a lei.

Começou na segunda-feira (18) o julgamento de Bannon em Washington. São duas acusações, na Justiça federal, de desacato ao Congresso. Ele se recusou a entregar documentos e a depor na comissão que investiga a invasão do Capitólio no 6 de Janeiro.

O ex-estrategista da Casa Branca Steve Bannon durante entrevista coletiva em Washington
O ex-estrategista da Casa Branca Steve Bannon durante entrevista coletiva em Washington - Stefani Reynolds/AFP

Voltou atrás, assombrado pelo macacão laranja, mas foi tarde. O juiz decidiu que não importa mais se ele prestar depoimento e contar o que sabe sobre a invasão –da qual é um comprovado instigador. Cada uma das duas acusações implica sentença obrigatória de 30 dias ou até um ano de prisão, além de multa de US$ 100 mil.

Bannon já era criminoso indiciado quando recebeu indulto presidencial horas antes de Donald Trump deixar a Casa Branca. Ele arriscava pegar até 20 anos de cadeia por roubar cerca de US$ 1 milhão de uma "fundação" que arrecadava doações para construir um muro na fronteira com o México. Os dois comparsas de Bannon não tiveram indulto e vão conhecer suas sentenças em setembro.

Num áudio vazado na semana passada, ouvimos Bannon dizendo a asseclas, três dias antes da eleição presidencial de 2020, que Trump ia se declarar vitorioso horas depois do encerramento da votação, mesmo se estivesse perdendo. Em meio a gargalhadas, diz que todo mundo vai pirar —democratas, cortes, mídia— e que "Trump vai ficar postando merda no Twitter". O áudio prenuncia o que o republicano fez, derrubando a defesa de que ele acreditava de fato que a eleição tinha sido roubada.

Ninguém acredita que Bannon acredita que Trump venceu em 2020. Ele é vigarista, mas não é burro. Depois de ser demitido com apenas sete meses no cargo de conselheiro da Casa Branca, em 2017, Bannon irritou o então presidente por declarações que deu a um jornalista e passou um período exilado do entorno trumpista.

Mas, com o indiciamento e a campanha presidencial de 2020, voltou rastejando, sabendo que um indulto seria a única garantia de liberdade.

Bannon não precisa mais de Trump. Trump é quem precisa de Bannon. No podcast diário que grava no térreo de uma casa em Washington, de propriedade de um egípcio, Bannon recebe um desfile de extremistas pró-Trump e alista até donas de casa para entrar na política.

De mais de cem convidados que passaram pelo podcast em vídeo "War Room" (sala de guerra), banido do YouTube, 24 venceram eleições primárias neste ano. Bannon está ativo na organização do roubo em massa das midterms, as eleições de meio de mandato, já que elas são administradas por estados. Alista mesários, administradores eleitorais e promete acabar com a democracia americana enquanto diz "respeitar o voto".

O dom do megalomaníaco Bannon é identificar ignorantes e rejeitados, gente que não sabe somar dois com dois, e vender a eles a ilusão de relevância, como faz quando nomeia "líderes" de seu movimento no exterior.

Cada vez que o capitão renegado em Brasília abre a boca para vender a grande mentira eleitoral, como fez diante de embaixadores enojados, é difícil não lembrar da cartilha do pestilento Rasputin de Washington, agora no banco dos réus.

Será que o capitão psicografa mensagens? Ou será que o herdeiro deslumbrado, nunca acusado de sagacidade, telefona regularmente para seu feitor ideológico pedindo palavras de ordem?

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