É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.
'Grace e Frankie', nova série de ex-'Friends' vê amor após os 70
"Grace e Frankie", a comédia com Jane Fonda e Lily Tomlin que a Netflix estreou na última sexta (8), está longe do amor à primeira vista. É aquele tipo de sitcom que começa meio engessada, com cara de filme da Diane Keaton esticado, vai conquistando aos pouquinhos, deixando os personagens crescerem, até fisgar o espectador sem alarde.
Curioso o site de vídeos e filmes por streaming disponibilizar a série em lote, os 13 episódios de meia hora de uma só vez, já que o ritmo e a temática não inspiram uma maratona.
Cria de Marta Kauffman, que marcou uma geração de espectadores com "Friends" (1994-2004), a série foge do padrão obsessivamente juvenil da maioria dos produtos do gênero ao apostar em quatro protagonistas septuagenários, mas cujo carisma é capaz de cativar plateias de qualquer idade.
Divulgação | ||
Lily Tomlin, June Diane Raphael and Jane Fonda na série 'Grace and Frankie' |
Juntos, Fonda, 77, Tomlin, 75, Martin Sheen, 74 e Sam Waterston, 74, somam respeitáveis 300 anos.
As duas, reeditando a parceria nascida há 35 anos com "Como Matar seu Chefe", interpretam as amigas/rivais que dão título à série, a classuda e sangue-quente Grace (Fonda) e a eternamente hippie Frankie (Tomlin), abruptamente deixadas pelos maridos quando estes resolvem sair do armário e viver juntos seus últimos anos de vida.
Confortáveis nos papeis, talvez um tanto acomodadas até, as atrizes usam seu infalível timing cômico para reeditar as gags e os diálogos costumeiros em filmes que tratam de mulheres mais velhas.
São Waterston ("The Newsroom", na qual já contracenava com Fonda) e Sheen ("The West Wing - Nos Bastidores do Poder") que, como os parceiros em um escritório de advocacia –"mas não só nisso", como desajeitadamente tentam explicar aos amigos ao se anunciarem gays– Sol e Robert, constroem personagens memoráveis.
A sutileza com que apresentam a relação entre si, evitando estereótipos e nem por isso afundando em pregações politicamente corretas ou lições de moral, é que faz "Grace e Frankie" valer a pena. A cena do quarto episódio em que eles combinam como se portar no funeral de um conhecido, sua primeira aparição como casal, é de um humor terno há muito em falta por aí.
As agruras dos dois pares de filhos de cada ex-casal para lidar com a nova configuração familiar produzem também bons momentos, embora não tão contundentes e ferinos quanto os de outra série recente que fala com humor de questões de sexo e gênero na terceira idade, "Transparent" (da Amazon).
É o quarteto central, porém, dotado de uma dimensão extra a cada episódio, que faz diferença.
Kauffman, que vinha se dedicando a documentários e curtas-metragens desde que "Friends" saiu do ar, tomou uma distância saudável das sitcoms para não ser assombrada pelo próprio sucesso. Parece ter dado certo. A passagem do tempo, neste caso, fez bem a todos.
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