Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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'Britannia' mal aplaca falta de 'Game of Thrones'

Drama soa ótimo, mas é simplório, com personagens unidimensionais e tramas retas

Britannia
Kelly Reilly interpreta a princesa guerreira Kera em cena de 'Britannia' - Divulgação

Capa-e-espada e fantasia arregimentam fãs na literatura e no cinema desde que eles existem enquanto tais. Não surpreende, portanto, que o sucesso avassalador de uma série do gênero, "Game of Thrones" (2011-19), empreste fôlego a uma profusão de dramas do tipo, como "Britannia", que chegou ao ar neste mês pelo Fox Premium.

A série criada por Jez Butterworth (que escreveu o filme mais recente da franquia "007"), seu irmão, Tom, e pelo produtor James Richardson tem elementos promissores.

Um deles é o fato de se ater a um dos períodos mais interessantes da história, a expansão do império romano na virada para o primeiro milênio —mas um que costuma ser menos explorado pela ficcionalização, o governo de Cláudio (10 a.C.-54 d.C), quando os romanos conquistaram a região da Britânia (hoje Inglaterra e País de Gales).

O fato de Cláudio ter sido antecedido por Calígula e sucedido por Nero, dois imperadores que entraram para a história por seus excessos e extravagâncias mais do que por suas habilidades, explica por que a ficção o preteriu, mas não torna sua gestão menos interessante.

O segundo é a exploração de mitologias (tanto de guerras quanto sobrenaturais) ligadas ao passado da região, e sua confrontação com as próprias crenças romanas, o que por si já é material farto para entreter.

O problema de "Britannia", contudo, é que sua dramaturgia é, na melhor das hipóteses, simplória, com personagens unidimensionais e tramas retas. Nada a ser comparado a "Game of Thrones", "Vikings" ou à mais modesta "O Último Reino", muito menos à seminal "Roma". Talvez agrade ao público infanto-juvenil. Não a quem se acostumou a tramas que investem na intriga política mais do que na ação.

Historicamente, estamos falando de um período de cerca de 15 séculos antes do que o que "Game of Thrones" pretende espelhar, dez antes de "Vikings". Há, a respeito, registro histórico razoavelmente farto, mas menos que acerca dos períodos retratados pelas outras duas séries. Não que isso seja um obstáculo —a ficção está aí para preencher lacunas.

O avanço do exército do general Aulus (David Morrissey, carismático) para Britannia e suas negociatas com um rei pusilânime (Ian McDiarmid, o Palpatine da saga "Star Wars") e uma rainha revanchista (Zoë Wanamaker), no meio dos quais está a princesa guerreira Kerra (Kelly Reilly), não comovem.

A dupla de andarilhos formada por um renegado (Nikolaj Lie Kaas) e uma adolescente rebelde (Eleanor Worthington-Cox), claramente inspirada na jornada do Cão e de Arya em "GoT", oferece algum alívio cômico, mas não redime a série. O sinistro líder druida vivido por Mackenzie Crook, da versão britânica de "The Office", tampouco.

Em todo caso, fotografia e direção de arte são louváveis e ajudam a aplacar a crise de abstinentes de "GoT", que volta em 2019. Mas só.

“Britannia”, da Sky, é exibida às 21h de domingo pelo Fox Premium 2; os nove episódios estão na recém-lançada plataforma de streaming da rede

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