Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho

Comediante que atacou Trump em jantar mostra a que veio na Netflix

Lapidada na escola da sátira jornalística, Michelle Wolf se interessa pelo humor político

Michelle Wolf, 33, foi alçada à notoriedade em abril com um impiedoso —e engraçadíssimo— discurso sobre o governo Trump no tradicional jantar anual dos correspondentes da Casa Branca. Em sua série na Netflix, no ar desde o fim de maio, a comediante mostra por que merece atenção.

"The Break com Michelle Wolf", como o programa em que faz stand-up e recebe convidados foi batizado, indica que a ex-redatora do Daily Show tem bem mais em comum com o ídolo Jerry Seinfeld do que o gosto por tênis.

Com cinco episódios no ar, dá até para achar que Wolf é uma versão feminina de Seinfeld, apenas mais boca suja, perspicaz em suas observações nonsense e velozes sobre o dia a dia. Alguns esquetes lembram também o Saturday Night Live, o marco zero do humor televisivo americano (fora de uma série).

Michelle Wolf, que estrela série stand-up na Netflix, fala em jantar de jornalistas da Casa Branca -  Aaron P. Bernstein-28.abr.18/Reuters

Contudo, há algo além dos palavrões a separar Wolf de Seinfeld. Egressa dos palcos e lapidada na escola da sátira jornalística, a mesma que no Brasil nos deu Marcelo Adnet e Gregorio Duvivier, ela se interessa pelo humor político.

E os tempos atuais são um prato cheio para isso, ainda mais para quem está convenientemente instalada numa plataforma que não depende de patrocinadores, e sim de assinantes diante de uma fartura de opções. Ou seja, desagradar, neste caso, não é um problema, mas uma missão.

Essa maior exposição e ousadia dos produtores americanos deu ao público, na última década, uma leva excepcional de mulheres comediantes.

Se antes elas brilhavam escrevendo roteiros (Tina Fey) ou interpretando-os (Julia Louis-Dreyfus, eterna Elaine), a geração seguinte comporta também mulheres que distribuem, elas mesmas, os sopapos verbais do improviso.

É o caso de Wolf e ainda de Samantha Bee (Full Frontal with Samantha Bee), outra egressa do Daily Show; Amy Schumer (Inside Amy Schumer), Sarah Silverman e a dupla de "Broad City", Ilana Glazer e Abbi Jacobson.

São profissionais que trazem o feminismo ao primeiro plano em um meio que necessita desesperadamente disso (pistas: o famoso artigo de Christopher Hitchens para a Vanity Fair em 2007 dizendo que mulheres não são engraçadas, a triste ruína de Louis C.K. soterrado por denúncias de assédio e a série produzida por Jim Carrey 'I am Dying Up Here', sobre stand-up).

São, por outro lado, artistas que assumem não estarem 100% certas sobre o que significa ser feminista hoje —vitais, portanto, para o debate.

(A própria Wolf se consumiu em autocrítica e explicações após fazer, no jantar da Casa Branca, piadas com o excesso de maquiagem da porta-voz de Trump, Sarah Huckabee Sanders, presente no evento. Todas elas mais sutis que as dirigidas ao presidente, ausente.)

Pena que, no Brasil, as comediantes mulheres ainda sejam mantidas, na maioria dos casos, em papéis secundários ou longe do humor político.

‘The Break com Michelle Wolf’ vai ao ar na Netflix, semanalmente, aos domingos; sua apresentação de 20 minutos no jantar dos correspondentes está disponível no YouTube

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