Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho

Indicações ao Emmy sinalizam que TV atingiu teto criativo

A julgar pela lista, multiplicação de plataformas não resultou em renovação de formatos

Cena da segunda temporada de "Westworld"
Cena da segunda temporada de "Westworld" - Divulgação

A mais recente lista de indicados ao Emmy dá sinais de que a multiplicação de plataformas de TV não resultou na renovação continuada de formatos, e a chegada de um nome novo à lista de finalistas continua a se dar quase exclusivamente pela ausência de um suspeito usual na programação.

Prevalecem narrativas tradicionais, apoiadas na literatura ou em episódios históricos, com pendor ao épico e/ou à distopia no caso dos dramas.

No das comédias, são histórias calcadas em outsiders —tema comum às sete indicadas na categoria, algo raro.

Não é estranho que as produções resultantes do primeiro ano de Donald Trump no poder tragam a sensação de “está-todo-mundo-louco” ou fujam para o novelão (“The Crown”, “This is Us” e, com seu tempero de espionagem, a magnífica “The Americans”). 

A dramaturgia é um catalisador do espírito dos tempos, sempre, ao descrevê-los ou ao nos providenciar um escape. 

É mais urgente que a primeira meta prevaleça e que as alegorias meticulosamente construídas pelas obras-primas da HBO, “Game of Thrones” e “Westworld”, e por “The Handmaid’s Tale” (a adaptação do romance de Margaret Atwood pela plataforma de streaming Hulu) triunfem. 

Se as duas últimas são mais eficazes em nos confrontar com nossas escolhas e descaminhos, é “Game of Thrones”, com seus dragões e zumbis, que costura melhor nossas torpezas políticas. 

Com uma temporada ainda para passar, seria melhor que a academia de TV esperasse mais um ano.
Nenhuma delas, contudo, é revolucionária do ponto de vista narrativo (desculpem, co-fãs de “Westworld”), o que indica que a era-de-ouro-da-TV pode estar sedimentada já.

Se sim, um ponto positivo seria a normalização de protagonistas mulheres, gays e negros —majoritários entre as melhores comédias. 

Com a ausência de “Veep” neste ano, porque a protagonista (e eterna laureada) Julia Louis-Dreyfus parou para se tratar de um câncer de mama, haverá novidades. 

“Atlanta” (Fox) é a favorita neste que parece ser o ano de Donald Glover/Childish Gambino (nada por ora é melhor do que o clipe de “This is America”, do ator/músico/roteirista/diretor). Mas “Silicon Valley” e “Barry” (ambas HBO) são igualmente dignas de nota, a sublinhar os tempos cínicos em que vivemos.

Entre as minisséries, o faroeste feminista “Sem Deus” (Netflix) pode ser contemplado, em que pese a ausência criminosa de “The Looming Tower”,adaptação do monumental livro de Lawrence Wright sobre o pré-11 de Setembro e a Al Qaeda. Que a produção, trazida ao Brasil pela Amazon Video, saia ao menos com o troféu de melhor ator para o excepcional Jeff Daniels.

Outros favoritos para a noite de 17 de setembro: Elisabeth Moss, que nos lava a alma como a June de “The Handmaid’s Tale”, e Jeffrey Wright (“Westworld”) como melhores intérpretes de drama; Bill Hader (“Barry”) e Rachel Brosnahan (“The Marvelous Mrs. Maisel”, da Amazon), na comédia; Thandie Newton (“Westworld”) e Mandy Patinkin (“Homeland”) como coadjuvantes dramáticos; e a dupla Trump-Hillary de “Staurday Night Live”, Alec Baldwin e Kate McKinnon, como coadjuvantes cômicos.

Entre os finalistas de variedades/talk-shows, onde dominam as crias do “Daily Show” —quatro discípulos de Jon Stewart estão entre os seis indicados—, John Oliver é o mais afiado.

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