Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Televisão

Com Emma Stone, 'Maniac', da Netflix, expõe obsessões e ecos de Kubrick

Série do diretor de "True Detective" explora visual setentista e apelo à ficção científica

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Existe uma qualidade em extinção em "Maniac", aposta ousada da Netflix que mistura gêneros e desenvolve sua história em camadas ora interpostas, ora paralelas: ela produz desejo palpável de assistir ao próximo episódio, que desenrolará mais um dos novelos da trama, e de fato carece de seus 400 minutos de tela.

Deveria ser o mínimo —uma série que se dedica de fato a ser contada em capítulos—, mas em tempos em que quase tudo disponível poderia bem ser compactado em duas horas em vez de artificialmente inflado para oito ou dez, a característica entra na coluna de méritos.

O ônus é que nem todas as camadas se desenvolverão de forma satisfatória, nem todas as respostas serão suficientes e nem todos os maneirismos inseridos farão sentido.

Para fãs de suspense, sci-fi e aventuras psicológicas, com acenos a Stanley Kubrick ("2001") e Christopher Nolan ("Amnésia", "A Origem"), esses são males menores.

Parte do lastro está nas atuações excepcionais de Emma Stone —uma atriz superestimada em "La La Land" e "Histórias Cruzadas" que chega aqui a seu melhor papel—  Jonah Hill (indicado ao Oscar em "O Lobo de Wall Street" e "Moneyball") e Justin Theroux ("The Leftovers").

Stone, como a depressiva Annie, que se droga para reviver constantemente o pior dia de sua vida, e Hill, como o esquizofrênico Owen, ovelha negra de uma família-margarina em constante briga para saber o que é real, ancoram a trama centrada no teste clínico de uma droga para curar todos os males psíquicos.

Essa busca por nossa pedra filosofal contemporânea —a suposta garantia da felicidade constante— é conduzida por um laboratório japonês e pelos cientistas James Mantlerey (Theroux), criador do remédio, e Fujita (Sonoya Mizuno), quase saídos de um filme de David Lynch.

Devemos nos identificar com Annie e Owen, que veem sua psique se desdobrar e se cruzar em vidas paralelas oriundas, à primeira vista, de seus inconscientes, enquanto tentam descobrir o que está por trás do experimento.

Essa busca será embalada por um visual setentista (a personagem de Mizuno, nesse sentido, é fascinante), a onipresença de máquinas como provedoras de soluções definitivas e o incômodo constante que emana dos personagens.

São traços do diretor Cary Fukunaga, cuja imaginação torta deu forma a "True Detective" (escrita por Nic Pizzolatto), que produz "Maniac" com o roteirista Patrick Somerville ("The Leftovers").

Na Netflix em lugar da HBO, referências mais sofisticadas ganham verniz pop para consumo rápido, sem contudo perder charme ou consistência (exemplo: a simpática versão feminina de HAL, o computador sinistro de "2001").

Tema constante para Fukunaga, a solidão, sempre inexpugnável, provê o pano de fundo e parte das respostas.

Em muitos momentos, "Maniac" é tão excessiva quanto a imaginação de seus personagens, e viciante (e dolorosa e prazerosa) como a droga que serve de pivô ao enredo. A viagem, ainda assim, é válida.

"Maniac" está na Netflix

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