Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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'True Detective' volta à boa forma em terceira temporada cheia de sutilezas

Nova história guarda laços com a primeira, ignorando o segundo capítulo, malsucedido

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A segunda temporada foi apenas um hiato infeliz para "True Detective", a série criada por Nic Pizzolatto cujo terceiro capítulo devolve aos espectadores o mesmo nevoento universo do miolo sul dos EUA e seus personagens perdidos entre perversões e remorsos.

Levou quatro anos para que a HBO e Pizzolatto retomassem a antologia, mas o tempo apurou o escritor, que agora também se aventura na direção de 2 dos 8 episódios.

Os personagens policiais, agora a cargo de Mahershala Ali ("Green Book") e Stephen Dorff ("Inimigo Público"), voltam a crescer e ganhar dimensão, ao contrário das opacas interpretações de Vince Vaughn e Colin Farrell na segunda temporada, no ar em 2015, rápido demais após o estrondoso sucesso da estreia no ano anterior.

A nova história guarda laços com a primeira, ignorando o capítulo malsucedido. Como no início, há a intersecção de três linhas temporais a partir da investigação de um crime que envolve crianças —em 1980, 1990 e 2015, escopo mais dilatado que na primeira.

Há de novo pedofilia, supostos ritos macabros e policiais deprimidos, vacilando entre a psicopatia e depressão paralisadora. Wayne "Purple" Hayes, o personagem de Ali, é também acometido por uma doença que lhe turva a memória.

E há, outra vez, os longos diálogos entre os parceiros; as tomadas aéreas do novelo de estradas tão comum no miolo dos EUA, onde às vezes só isso parece sobreviver. Em vez da úmida Louisiana, porém, estamos na mais sombria e fria (mas igualmente empobrecida) região dos Ozarks, aqui na porção do Arkansas.

O cuidado e a delicadeza em retratar aspectos culturais e sociais desse lugar esquecido dos EUA, que raramente entra em séries e filmes sem ser como caricatura, é uma das coisas que fazem da série especial. Pizzolatto é produto desse ambiente, da Louisiana pós-segregação racial oficializada, e sabe o que fala.

Mas há contraste, em relação ao ano de estreia, no ponto de vista narrativo.

Se com os personagens de Woody Harrelson e Matthew McConaughey "True Detective" resvalava na misoginia como componente narrativo —as mulheres não tinham força a não ser como vítimas—, aqui surge a ex-mulher de Wayne, Amelia (brilhantemente interpretada por Carmen Ejogo, a Coretta King de "Selma"), como a única que consegue enxergar com alguma clareza no meio da névoa.

Sutilmente, a série questiona os papeis de pai e mãe, de mulher, de professora e de filha, usando para isso o comportamento de cada época.

É um tempero interessante e sofisticado para uma história que tende ao macabro, e que só a torna mais atraente. Os enigmas, ainda que ressurjam os símbolos e até os nomes da primeira temporada, parecem mais mundanos e menos etéreos e filosóficos.

Ali está especialmente bem como o detetive ressentido, num páreo duro com os astros da primeira temporada. A avaliar pelos primeiros quatro episódios, ele é capaz de vencer.

A terceira temporada de "True Detective" é exibida à 0h da madrugada de domingo para segunda pela HBO, com reprises ao longo da semana, e no HBO Go

Erramos: o texto foi alterado

O horário de exibição dos episódios inéditos de "True Detective" é 0h de segunda, e não 23h de domingo. O texto foi corrigido.

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