Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Luciana Coelho

Escondida na Netflix, irlandesa 'Derry Girls' aposta no ridículo para provocar

Em seus melhores momentos, série remete ao nonsense provocador de Monty Python

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Em uma cena no início da segunda temporada da comédia irlandesa "Derry Girls", adolescentes listam em uma lousa as diferenças que enxergam entre os católicos e os protestantes, com bobagens do tipo "protestantes gostam de guardar a torradeira no armário".

​É a Irlanda do Norte dos anos 1990, e os acordos de paz entre católicos e protestantes (pró-Irlanda e pró-Reino Unido) só seriam assinados em 1998. O clima de polarização e demonização do outro que a série ridiculariza, porém, fala aos nossos tempos em que até desfile ou bloco de Carnaval viram tema de racha político.

 
 
 

Por isso, o fato de apenas uma fatia pequena do público da Netflix ter memória dos anos de violência sectária na Irlanda e na Irlanda do Norte não é empecilho para apreciar essa comédia escrachada cuja primeira temporada é oferecida no Brasil pela Netflix.

"Derry Girls" fala do nosso ridículo em ver quem acredita em coisas diferentes como um inimigo ou um alienígena, mesmo que essas divisões tenham razão histórica (imagine quando nem isso), e em normalizá-las.

Fala, também, de uma adolescência pré-redes sociais. Sem um celular onde enfiar a cara, sem selfies nem compartilhamentos infinitos, havia convivência, experiências e muito tempo para jogar fora. Não era melhor ou pior, mas definitivamente era diferente.

Lisa McGee, criadora da série, capta bem essa nostalgia ao usar a própria experiência como inspiração, o que garante a graça apesar da composição caricata dos personagens.

Seus anti-heróis são um grupo de cinco estudantes de uma escola católica da insossa Derry, a segunda maior cidade norte-irlandesa, às voltas com escola castradora, famílias sem dinheiro e as dúvidas dessa fase da vida que independem de tempo e lugar.

McGee consegue, também, infundir em seu roteiro e diálogos um ar de sitcom de 30 anos atrás, mas com frescor e ousadias adequadas a hoje. Dessa forma, o que ela oferece ao espectador acaba sendo uma espécie de espelho disforme, que faz com que nos vejamos ridículos nele.

Nesse registro, o quinteto central resgata a tradição farsesca, com gestos e caretas que funcionam bem no cenário, pensado para que enxerguemos a Irlanda do Norte como exótica e o desconforto se torne palpável.

Mas hilária, mesmo, só Siobhan McSweeney, que escolheu uma interpretação lacônica para a freira mal-humorada que dirige a escola exclusivamente de meninas (e um garoto inglês, que completa a turma de protagonistas).

Em seus melhores momentos, "Derry Girls" remete ao nonsense provocador do grupo Monty Python, referência absoluta de comédia televisiva no último meio século.

A netflixização dos nossos hábitos televisivos tolheu muito do repertório do público, que acaba se limitando ao cardápio da plataforma. 

Por outro lado, antes da gigante do entretenimento as chances de uma comédia irlandesa (ou alemã ou espanhola ou coreana ou chilena) chegar ao grande público eram praticamente nulas.

Os seis episódios da primeira temporada de 'Derry Girls', com 25 minutos cada, estão disponíveis na Netflix

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.