Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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'Dilema' recria pornô-soft dos anos 1990 para a Netflix

Drama com Renée Zellweger alterna clichês, reviravoltas e interpretações careteiras

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“Dilema”, drama com Renée Zellweger na Netflix, tem momentos em que parece um pornô-soft dos anos 1990, à la “Instinto Selvagem”, alternados a clichês, reviravoltas e interpretações careteiras. Ainda assim, é difícil frear o impulso de assistir a seus dez episódios compulsivamente.

A combinação desses fatores não surpreende em uma série criada por Mike Kelley, que traz no currículo o roteiro do novelão cult “Revenge” (2011-2015), talvez o melhor exemplo recente de série trash de sucesso (e com bons motivos para tanto). 

O piloto e mais um episódio são dirigidos por Phillip Noyce, o sujeito por trás das câmeras em “Invasão de Privacidade”, filme de 1993 feito na esteira da explosão de Sharon Stone em “Instinto Selvagem”, no ano anterior. 

(A favor de Noyce, ele fez também o excelente “O Americano Tranquilo”, em 2002, e o divertido “O Colecionador de Ossos”, em 1999, ambos baseados em best-sellers.)

Pois “Dilema” é uma mistura afável de tudo isso, com mais toda a sorte de cena e personagem clichê que se possa imaginar em um dramalhão. 

O psicopata misógino que persegue o casal fofo grávido? Sim, com direito a cena de fuga da cabana na floresta. 

O herói de passado nebuloso que a mocinha está por descobrir? Também. O capanga que esconde um bom coração? Está lá (aliás, é a única atuação digna de nota, a de Louis Herthum, também conhecido como o pai robótico de Dolores em “Westworld”).

Há espaço para o financista inescrupuloso, o vilão que se esconde na sombra e manipula a personagem central, o triângulo amoroso interracial gay e fofo e os inimigos que acabam felizes na cama.

Mas não desista. É tudo muito ruim e muito bom, pois o tema que amarra essa pororoca de subtramas novelescas é universal e irresistível: a culpa paterna-materna.

Embora o título e alguns dos monólogos proferidos pela personagem de Zellweger insinuem a escolha como tema central, é a culpa que move os personagens. E com esta a identificação é imediata.

A atriz, que explodiu nas telas como a solteirona britânica Bridget Jones, é uma empresária-estrela conhecida pelo coração de gelo que resolve investir em uma start-up que personaliza estudos clínicos para pacientes crônicos. 

Sua antagonista é a fundadora da empresa, Lisa (a insossa Jane Levy, egressa de produções recentes de terror).

Da Zellweger conhecida do público, que perdeu carisma na mesma proporção em que perdeu quilos nos últimos anos, pouco restou. Sua atuação se restringe a sussurros e bicos, miradas de olhos apertados e murmúrios de certa comicidade involuntária. 

Mas, talvez, de um dramalhão assim não se espere muito mais. Em meio a tantas séries em que o cinza na personalidade dos personagens predomina, “Dilema” se aferra à fórmula maniqueísta mais consagrada.

É essa mistura de saber o que esperar —reviravoltas, com uma atriz conhecida entregue a uma caricatura do gênero, mais o visual noventista que desperta certa nostalgia, produz a reconfortante sensação de se entreter com um prazer rasteiro sem nenhuma pretensão maior.

E conforto, em tempos em que o noticiário assusta e até as séries produzem polarização e debates mirabolantes, não é algo a se desprezar.

A primeira temporada de ‘Dilema’ está disponível na Netflix

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