Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Sombria, 'Big Little Lies' se firma como série anti-'Sex and the City'

Segunda temporada de 'BLL' também consegue a proeza de superar a original

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Nicole Kidman e Meryl Streep em 'Big Little Eyes'
Nicole Kidman e Meryl Streep em cena de ‘Big Little Lies’, na qual interpretam nora e sogra - Divulgação

Mulher que visse TV a cabo na virada do milênio em algum momento se depararia com a pergunta "você é Carrie/Samantha/Miranda/Charlotte?", alusão ao quarteto arquetípico de "Sex and the City". Hoje, não soa nada divertido se pôr no lugar de Madelin, Celeste, Jane, Bonnie e Renata, o quinteto de "Big Little Lies".

Treze anos separam as séries da HBO ("Sex and the City" acabou em 2004; "BLL" começou em 2017 e retornou agora para a segunda temporada). Estão, contudo, irremediavelmente ligadas ao captarem o momento da sociedade e falarem da relação entre um grupo de mulheres de um ponto de vista bastante intimista.

Mas são também a antítese uma da outra.

O fato de termos saltado do solar ao sombrio, da busca por relacionamentos frutíferos aos autodestrutivos e da frivolidade à angústia enseja uma quantidade de perguntas sobre TV e mulheres mais numerosa que os pares de sapato de Carrie (Sarah Jessica Parker) em "Sex and the City" e que os hematomas de Celeste (Nicole Kidman) em "BLL".

Se a série da virada do milênio mostrava amigas libertas de estigmas sociais e sexuais se sentindo bem na própria companhia, a de hoje mostra um grupo de mulheres que se vê unido por circunstâncias bastante adversas e que reluta em sair da bolha de casamentos doentes.

Para as primeiras, os filhos no fim da série surgiram como um rito de passagem para uma vida enfim apaziguada, uma libertação.

É o exato oposto do que as crianças representam para o quinteto de Monterey, que em vez de caminhadas pela cidade fervilhante prefere claustrofóbicas conversas em carros a rodar por subúrbios soporíferos.

Esta segunda temporada de "Big Little Lies" também consegue uma proeza: superar a original, baseada no livro de Liane Moriarty, em tempos em que séries de boa audiência são esticadas mesmo que o enredo não o justifique.

A comemorada chegada de Meryl Streep ao elenco para interpretar a mãe de Perry (Alexander Skarsgård), o marido abusador de Kidman, certamente contribui para isso. Sua Mary Louise é sorrateira e venenosa como poucos personagens fictícios recentes.

Mas o rumo mais intimista adotado também ajudou a adensar o enredo.

Mais turva, porque há um crime a ocultar e outro para digerir, esta segunda temporada impõe às protagonistas dilemas maiores do que a vida escolar dos filhos, mostrada até então como uma espécie de espelho para seus dias vazios ou um ringue para seus egos competirem.

Esse paralelo entre a vida das mães e a vida dos filhos, aliás, é uma das forças da série, em tempos em que a ficção tem buscado suas metáforas em alegorias bem menos verossímeis.

O exercício constante de projeção —das mães nas crianças, das sessões de terapia frequentemente usadas como recurso da série e das personagens umas nas outras— acaba por envolver também o espectador, seduzido pelo mesmo jogo de espelhos.

A segunda temporada de “Big Little Lies” vai ao ar às 22h05 de domingo na HBO 

Erramos: o texto foi alterado

A coluna errou o nome de cidade californiana onde se passa a série. É Monterey, não Malibu. O texto foi corrigido.

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