Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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'The Righteous Gemstones', na HBO, satiriza as megaigrejas evangélicas

Família conduz seu negócio religioso com o mesmo afinco para torná-lo um sucesso com que os Sopranos geriam sua rede criminosa

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Famílias são pratos fartos para a dramaturgia, mais ainda quando constroem um negócio bem-sucedido.

Tretas abundam, e toda discussão sobre dinheiro é dissecada com atenção psicanalítica. “Sopranos”, Empire” e “Succession” tratam disso muito bem.

Soma-se agora a essa lista “The Righteous Gemstones”, uma produção menos pretensiosa da HBO que lança um olhar sarcástico sobre uma família de televangelistas.

Atenção, não se trata de fazer piada com a fé de quem quer que seja —embora alguns chistes inocentes com o santo nome tenham passado. 

A graça é justamente que os Gemstones do título conduzem seu negócio religioso com o mesmo afinco para torná-lo um sucesso com que os Sopranos geriam sua rede criminosa, os Lyon cuidam de seu selo fonográfico e os Roy de sua rede midiática. 

Deus, ali, é também uma marca e um produto, que precisa ganhar novos mercados e ser consumido pelas massas.

Mas o tom adotado pelo autor e ator Danny McBride é menos crítico e mais cômico, até desbragado, e ele prefere tirar suas piadas muito mais das relações tumultuadas da família, e da família com seus detratores, que da fé em si, tratada como algo legítimo porém acessório.

McBride, cuja carreira se deu no gênero besteirol, interpreta na série o primogênito de um casal de televangelistas ou superpastores, Jesse. 

A mãe, que tinha uma fé firme e um talento inconteste para pregar o evangelho, morreu em circunstâncias pouco comentadas pelos demais; o pai, Eli (o sempre maravilhoso John Goodman), quer manter e expandir o legado, mas se desmotiva ao saber que só conta com os filhos para isso. 

Jesse tem dois irmãos: a recalcada Judy (Edi Patterson), inconformada por ser deixada em segundo plano pela ala masculina da família, e o caçula Kelvin (Adam DeVine, de “Modern Family”), aparentemente um homossexual enrustido fascinado pelo amigo Keefe. Nenhum dos dois, contudo, parece desejoso de manter o legado dos pais.

Os netos de Eli, filhos de Jesse, tampouco se mostram aptos; o mais velho, Gideon (Skyler Gisondo), abandonou a família para ser dublê em Hollywood; de volta ao lar, tem como intuito sabotar o pai. 

A história se passa no miolo sul dos Estados Unidos, um lugar bastante religioso e muito peculiar em sua relação com a fé —foi ali que brotaram, por exemplo, as megaigrejas pentencostais de sede única, que atraem a seus cultos dezenas de milhares de fiéis; os televangelistas, que levam a palavra a milhões; e a promíscua relação entre políticos e chefes de igreja evangélicos. 

A fé jamais é questionada —a crença dos Gemstones em Deus é inequívoca—, mas isso não é suficiente para inibir a família de enriquecer e se beneficiar da crença de seu rebanho. Tampouco freia seus delitos, pecados e até crimes, desde que os fins sejam nobres —daí o “righteous” do título, algo como “virtuosos”, gente que se acredita sempre certa.

É diversão ligeira, mas em tempos de homens de bem, funciona como expiação.

“The Righteous Gemstones” vai ao ar na HBO, aos domingos, 23h05

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