Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Em 'Ninguém Tá Olhando', diretor de 'Bingo' leva à Netflix anjos cínicos

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O universo do diretor e montador Daniel Rezende é povoado por palhaços cocainômanos, crianças que veem pessoas inexistentes e anjos tortos. 

Mas se o primeiro rendeu um dos grandes filmes brasileiros da década (“Bingo - O Rei das Manhãs”, de 2017), e os delírios infantis levaram às melhores cenas do recente “Turma da Mônica - Laços”, a trupe alada deu menos sorte com a nova “Ninguém Tá Olhando”, no ar na Netflix. 

Rezende, que ganhou atenção como montador de “Cidade de Deus” (2002), preserva sua marca de registro agridoce e tons desbotados em sua primeira série como autor (a comédia tem criação de Carolina Markowicz, Teodoro Poppovic e Leandro Ramos). De novo temos o repertório de fantasias corrompidas como em “Bingo”, no qual quem deveria inspirar conforto se mostra cheio de falhas morais e defeitos.

Mas no lugar do cinismo da história de um dos intérpretes do palhaço Bozo e dos hoje adultos que a conhecem, desta vez Rezende prefere uma abordagem simpática, talvez porque a série está em uma plataforma na qual o controle etário parece impossível.

Esse aceno fica nítido na escolha da comediante Kéfera Buchmann, uma estrela do YouTube de enorme apelo ao público adolescente, para interpretar a humana Miriam, objeto dos afetos do anjo Uli, vivido por Victor Lamoglia.

É Lamoglia o maior responsável por manter a voltagem alta nas cenas com seu hiperativo Uli, recém trazido para o mundo e em seus primeiros contatos com humanos. Kéfera fica em uma versão empalidecida do que é no YouTube.

“Ninguém Tá Olhando” conta a história de um grupo de anjos (ou “angelus”, na série) que trabalha em uma enorme repartição comandada por um burocrata de asas, na qual velhas engrenagens movidas por ratos emparelham protetores e protegidos em uma rotina sem graça e sem fim. 

Uli, o primeiro novato a surgir ali em 300 anos, se rebela contra esse sistema, detonando, por um lado, uma cadeia de comportamentos inadequados à função entre seus colegas, e, por outro, de libertações morais e descobertas reprimidas entre as pessoas pelas quais o grupo olha. 

O tema moral, a briga entre o correto e o justo e o desdém de convenções sociais sem sentido são recorrentes para Rezende, aparecendo aqui, em “Bingo” e até na versão cinematográfica da Mônica. 

A cena em que anjos e protegidos cedem a seus impulsos em uma festa poderia estar no filme sobre o palhaço, embora o sexo e as drogas sejam tratados aqui como cômicos.

Há também um eco forte de “The Office”, a melhor das séries sobre trabalho, que mostrou quão sem sentido a vida pode se tornar quando apenas repetimos nossas incumbências sem pensar no que estamos fazendo e em seu porquê.

Além de Lamoglia, a engraçadíssima Júlia Rabello (do Porta dos Fundos) e Danilo de Moura completam o trio de anjos malucos, como Greta e Chum, garantindo piadas e cacos em todos os diálogos.

É um boa pedida para desopilar —o que, nos dias de hoje, já é um pequeno milagre.

Os oito episódios de “Ninguém Tá Olhando” estão disponíveis na Netflix

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