Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Estreia da Apple em séries mal lembra o vanguardismo de seus produtos

'The Morning Show' está muito mais para as séries que por décadas ocuparam as noites na TV aberta do que para a ousadia e a experimentação das plataformas de streaming

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Alguns atores se especializam em interpretar papéis com os mesmos traços de personalidade de forma recorrente, mas poucos conseguem fazê-lo todas as vezes como se fosse novo. Reese Witherspoon é uma dessas exceções.

Vista recentemente como a Madeline de “Big Little Lies”, ela está de volta agora como a Bradley de “The Morning Show”, grande aposta de estreia da Apple para expandir seu domínio para a disputada arena da produção de conteúdo de entretenimento.

Mais uma vez, ela faz uma recém-chegada de personalidade difícil e controladora que mostra “a real” aos demais. 

Neste caso, é uma jornalista do interior dos EUA que se vê repentinamente empoleirada na bancada do principal programa jornalístico da TV americana, o fictício "The Morning Show", após um dos apresentadores ser ejetado do cargo na rebarba do movimento MeToo (aquele que há dois anos expõe estupros, assédios e delitos sexuais de figurões do showbiz nos EUA).

Sua antagonista é Jennifer Aniston, a veterana, em um papel com mais nuances e menos brilho do que aquele que a fez famosa, a Rachel de “Friends”. E o vilão, ao menos a princípio, é Steve Carell, outro egresso de sitcoms (“The Office”) que abraça muito bem papéis dramáticos e soturnos.

Mas o apelo da série para por aí, em tema e elenco.

A história contada, da novata que aspira ao lugar da profissional consagrada, já foi recontada pelo cinema, a literatura e a TV, de forma mais marcante em “A Malvada” (1950), de quem “The Morning Show” guarda leve eco.

É curioso, porém, que os criadores da série, Jay Carson e Kerry Ehrin, tenham centrado seu enredo na rixa entre duas mulheres mesmo tendo como base o maior escândalo sexual e o sexismo do setor criativo americano. Algumas fórmulas surradas relutam mesmo em prescrever.

Não se pode dizer que o vanguardismo que fez da Apple uma gigante no setor de tecnologia conduza suas produções —“The Morning Show” está muito mais para as séries que por décadas ocuparam as noites na TV aberta e nos canais pagos tradicionais do que para a ousadia e a experimentação das plataformas de streaming e canais pagos “premium”, como HBO e AMC.

Claro, um elenco desses não perde seu apelo, e a história da moça do interior arrasando na cidade grande nunca deixará de atrair a empatia do público, mas a Apple podia mais, e espanta que uma empresa dada a buscar o novo se revele tão conservadora ao expandir seus rumos.

Para o público, a promessa, que inclui Steven Spielberg e outras produções de muitos cifrões, é alta. Dada a voracidade com que consumimos séries hoje, no entanto, deve perdurar após uma calibragem.

Uma nota curiosa sobre a série: Carson, seu cocriador, teve uma longa carreira política assessorando nomes de peso do Partido Democrata, notadamente Hillary Clinton, de quem foi porta-voz.

Podia ter levado a seu roteiro um pouco mais da argúcia adquirida nos corredores de Washington.

“The Morning Show” está disponível em episódios semanais todas as sextas no aplicativo Apple TV+

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