Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Imitação chinfrim de 'Black Mirror', série brasileira 'Onisciente' não entretém

O principal problema está nas atuações ruins demais para garantir que o espectador continue assistindo,

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A distopia está para as séries de TV desta década como a paleteria esteve para os empreendedores gastronômicos paulistanos. Espera-se que a onda que começou com o sucesso de “Black Mirror” e gerou cópias fuleiras tenha o mesmo fim, para evitar mais vexames como “Onisciente”.

A série que a Netflix lançou nesta semana, uma produção brasileira em seis episódios, não passa nem como pastiche divertido. 

O principal problema está nas atuações ruins demais para garantir que o espectador continue assistindo, apesar de o elenco incluir Jonathan Haagensen (“Cidade de Deus”) e Sandra Corveloni (“Linha de Passe”) como coadjuvantes.

Mas não é só isso. 

O argumento até suscita alguma curiosidade filosófica diante da obsessão com segurança desta era: em uma cidade murada onde todos aceitam ser permanentemente vigiados por drones em troca de índices de criminalidade baixíssimos, um assassinato ocorre sem deixar suspeitos. 

A execução, porém, é demasiadamente desajeitada e rasa para que a premissa evolua.

A heroína da série é Nina, interpretada por Carla Salle. Com passagens por “Malhação” e novelas da Globo, a atriz tem um repertório que não ultrapassa duas ou três expressões faciais (sim, arregalar os olhos para parecer atordoada está entre elas). 

A seu lado, está Guilherme Prates, como Daniel. O currículo é semelhante e a dedicação a este papel também. 

Para azar do espectador, é essa dupla que encarna o casal de irmãos com talento para a programação de softwares que vai investigar o assassinato do pai, o tal morto que origina a premissa da série. 

Obviamente há uma grande companhia de segurança envolvida no caso (“Homecoming”, série da Amazon com Julia Roberts, fez isso melhor), segredos do passado (“Handmaid’s Tale” fez isso infinitamente melhor) e um jogo de ascensão social envolvendo suposta meritocracia como pano de fundo (a brasileira “3%”, dos mesmos produtores, usou isso de forma bem mais interessante). 

Ah, sim, e há uma figura misteriosa pronta a ajudar, cheia de boas intenções (Corveloni), e o interesse amoroso da mocinha que não tem muita ideia do que se passa à volta, mas com ótimo coração (Haagensen). Esses dois arquétipos são tão surrados que listar séries em que aparecem preencheria toda a coluna.

Com “3%”, na mesma Netflix, o roteirista Pedro Aguilera prendeu a plateia, apesar da produção cheia de figurinos toscos e cenários mal-ajambrados, graças a um ritmo eficaz, ao domínio do clímax e a um elenco que dava conta dos personagens sem tantas nuances. A série fez sucesso.

Agora, o ritmo rateia, e tudo que se sente antes do fim do primeiro episódio é sono. O que poderia virar uma discussão minimamente instigante dá lugar a um looping de clichês com final previsível, e os diálogos artificiais pouco ajudam. 

Fica nítida, também, uma saturação com este subgênero, cujos augúrios pouco animadores parecem finalmente superados por uma realidade mais assustadora ainda.

‘Onisciente’ está disponível na Netflix

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