Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho

Ao visar Salles, Guedes mira árvore e ignora floresta

Ministro do Meio Ambiente faz exatamente o que Bolsonaro lhe mandou fazer

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Paulo Guedes não está satisfeito com o colega Ricardo Salles, informaram as repórteres Danielle Brant e Talita Fernandes domingo (23) nesta Folha. O superministro da Economia notou que os desfeitos do titular do Meio Ambiente podem nos legar não só a destruição de porções consideráveis de nosso patrimônio natural como, tremei, prejuízo econômico.

Sim, o mercado financeiro, essa entidade etérea de senso de autopreservação aguçado, percebeu que danos ambientais podem ser permanentes e tornar as condições de vida no planeta bem mais difíceis, instáveis e, portanto, caras. Logo, passou a cobrar responsabilidade ecológica de empresas e governos para fechar negócios.

Paulo Guedes, Abraham Weintraub, Ricardo Salles, Sergio Moro e Jair Bolsonaro em cerimônia ao Dia da Bandeira - Pedro Ladeira - 19.nov.19/Folhapress

Guedes, que soa tão insensível às vezes, entendeu o recado do Fórum Econômico Mundial em janeiro e voltou de Davos decidido a resgatar a imagem de um Brasil que foi de protagonista no debate sobre preservação ambiental e mudança climática a vilão rastaquera

Sendo justa, a derrocada começou sob Dilma Rousseff, seguiu com Michel Temer e acelera com Jair Bolsonaro. Deve haver fundo no poço, mas ele não para de se deslocar para baixo.

Em busca de um repique que convença os investidores externos e dissipe a ameaça de boicotes, sobretudo ao nosso estimado agronegócio, Guedes tomou para si a tarefa de estancar a crise. E mira em Salles.

Só há um problema: diferentemente de outros colegas de gabinete que criam balbúrdia apenas pela incapacidade de executar qualquer tipo de programa, inclusive o do próprio governo, Salles tem feito exatamente aquilo que foi escolhido pelo presidente para fazer.

A saber, o programa deste governo sempre foi desmontar qualquer resquício de política ambiental, esvaziar órgãos de fiscalização, relaxar regulamentações e reduzir áreas de preservação, tudo isso descrito como entrave aos negócios.

Pois os humores mudaram, e o entrave agora é a inação. Cobrado pelo aumento de 30% das queimadas na Amazônia durante 2019, o Planalto se viu levado a amenizar o discurso.

Nada, contudo, se traduziu em ação. O Conselho da Amazônia mais parece produto da obsessão militar com a soberania na região Norte; a retomada do Centro de Biotecnologia da Amazônia é uma ideia vaga e a Força Nacional Ambiental está longe de entrar em campo.

Pior, o governo insiste que punirá o desmate ilegal quando ao mesmo tempo quer reduzir áreas de proteção ambiental (e alargar a ideia de "legal").

Guedes tem até 28 de abril, quando o Brasil recebe o capítulo latino-americano do Fórum, para ter algo palpável a mostrar. Sem Bolsonaro no barco, entretanto, qualquer anúncio será cortina de fumaça. 
 

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