Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Com Shyamalan e sustos, 'Servant' explora o limbo da perda de um filho

A série foi uma das primeiras eleitas da Apple para marcar sua estreia como produtora e plataforma de streaming

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Desde que o diretor indo-americano M. Night Shyamalan despontou com o suspense sobrenatural “O Sexto Sentido”, e já faz —pasmem— 21 anos, é impossível assistir a uma produção em que ele esteja envolvido sem esperar pelo momento de reviravolta.

Meticuloso que é, Shyamalan aprendeu a usar essa expectativa a seu favor e fazer dela uma marca mesmo quando não é o dono do projeto —caso de “Servant”, série da Apple criada por Tony Basgallop (do filme de “24 Horas”), na qual ele dirige o primeiro e o penúltimo episódios, além de assinar a produção executiva. 

É uma espécie de jogo, no qual ele e o roteirista constroem uma quase cumplicidade do espectador até que este passe a tentar rechear lacunas do enredo com as possibilidades mais ousadas, apenas para ser surpreendido.

Nem sempre dá certo, e Shyamalan acumula tantos sucessos quanto vexames. Mas em “Servant” a fórmula funciona, auxiliada por uma premissa que em si já encerra dois dos maiores medos humanos: o de perder um filho ainda pequeno e o de enlouquecer.

Dividida em dez episódios, a série, uma das primeiras eleitas da Apple para marcar sua estreia como produtora e plataforma de streaming, faz terror psicológico à moda antiga, com luzes bruxuleantes, poucos atores em cena, confinamento, a sugestão de elementos sobrenaturais e um personagem de intenção obscura contraposto ao modelo de felicidade americano.

Em “Servant”, essa personagem é Leanne (Nell Tiger Free), adolescente trazida de um rincão do estado americano de Wisconsin para a urbana Filadélfia a fim de trabalhar em troca de teto e um salário indecente como babá para a repórter de TV Dorothy e o chef Sean (Lauren Ambrose e Toby Kebbel). 

Logo no primeiro episódio fica claro que o bebê de quem ela vai cuidar na verdade é um boneco ultrarrealista, usado para ajudar a mãe a superar a perda inesperada de seu filho na 13ª semana de vida.

Leal e crédula, Leanne vai se apegar à fantasia alheia ferrenhamente, afetando todo o equilíbrio da casa.

Não é nova a escolha de um bebê como elemento sinistro em cena (que o digam Roman Polanski e seu “O Bebê de Rosemary”). Aqui, no entanto, preferiu-se explorar muito mais o vácuo deixado pela ausência de um filho e o luto reprimido daqueles que perdem uma criança tão cedo, muitas vezes extravasado em emoções e atos inexplicáveis.

Esse jogo entre o inesperado e o previsto, entre o aceitável e o impossível, casa muito bem com o estilo de Shyamalan, abrindo a porta para que tudo se torne verossímil.

Logo o espectador está ao lado de Sean, o pai atônito que vê a realidade mudar repentina e repetidamente à sua volta em picos enlouquecedores. 

Sua âncora, e portanto também a nossa, é o cunhado Julian, um executivo de apetites intensos interpretado por Rupert Grint, em um papel diametralmente oposto ao do simpático Ron Weasley da heptologia “Harry Potter”, que o lançou na carreira.

Fica tudo melhor se o impulso de maratonar for domado.

'Servant' está disponível na plataforma de streaming Apple TV+

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