Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'A Máfia dos Tigres' é feita para hipnotizar quem está confinado

A Netflix descobriu nas séries documentais um filão há algum tempo

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A melhor companhia para esta quarentena é um sujeito que usa camisas extravagantes, corte de cabelo com “mullets” e cria dezenas de tigres no quintal. Joe Exotic, um dono de zoológico particular no sul dos Estados Unidos, é a estrela da série documental “A Máfia dos Tigres”, que a Netflix lançou em março e que se tornou um alento em tempos de realidade alterada.

A plataforma descobriu nas séries documentais um filão há algum tempo. Acertou com “Making a Murderer”, sobre um controverso julgamento por assassinato; brilhou com “Wild Wild Country”, a respeito do polêmico guru Osho, e arrebatou fãs com “The Staircase” (“Morte na Escadaria”),
novamente acompanhando durante anos um crime e seus desdobramentos judiciais.

Com “A Máfia dos Tigres”, porém, o algoritmo parece ter achado o ponto perfeito. Juntou crimes, intrigas, personagens desajustados e pitorescos felinos, uma paixão internética inequívoca. Não tinha como dar errado.

Em seus sete episódios, a série mostra a rixa entre Joe Exotic e a autodeclarada defensora dos animais Carole Baskin, que também lucra com um “santuário”. Outros personagens igualmente esquisitos, cada um com sua própria matilha, panteras e onças, orbitam esse mundo.

O acerto dos diretores Rebecca Chaikin e Eric Goode, que acompanharam por anos essa fábula distópica dos anos 2000, foi ter evitado o maniqueísmo e não apresentar Joe como mocinho ou vilão.

Pela série, sabemos que sua vida não foi fácil e que ele tem um imenso carisma, algo que o levou a estrelar o próprio programa de TV durante anos. Mas sabemos também que ele cultiva uma personalidade paranoica e megalomaníaca, narcisista e autoritária.

Seus colegas de profissão não são tão diferentes. Seus funcionários são pessoas esquecidas pela sociedade, que vivem no zoológico e mantêm uma devoção total ao chefe.

Seus concorrentes são deveras esquisitos, a começar por Bhagavan Antle, misto de coach televisivo com guru tântrico dono de um zoológico onde mantém uma espécie de harém junto com sua coleção de animais, elefanta inclusa. A própria Carole, que deveria ser o paladino dos bichos, parece propensa a explorar gente e tigres para alimentar seu ego em igual proporção.

A egolatria e a obsessão por atenção é traço recorrente nos três, que apresentam em dose superlativa a mesma carência que move pequenas multidões a seus estabelecimentos, ansiosas por um selfie com um tigre ou um similar para publicar em sua rede social preferida.

Que os EUA não tivessem lei federal contra zoológicos caseiros é assustador, mas não surpreendente dada a fascinação americana com propriedade e ostentação e objetos que denotem poder. Mesmo assim, tomar conhecimento de quantos zoológicos particulares há no país e quantos tigres são criados em cativeiro ali —milhares— nos faz sentir em uma espécie de mundo bizarro paralelo.

A história, contudo, é real. Sua esquisitice acaba por confortar o espectador em uma época em que a realidade nos é tão estranha. Ver os tigres enjaulados não deixa de nos causar empatia, nós mesmos agora confinados em casas e apartamentos. É angustiante ver animais tão imponentes fadados a uma vida de grades e fotos.

Os sete episódios de ‘Tiger King’ e um oitavo que revisita os personagens estão disponíveis na Netflix

Erramos: o texto foi alterado

A coluna errou o nome da série "Making a Murderer", chamando-a de "Making a Murder". O texto foi corrigido.

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