Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

Clichês não estragam 'Coisa Mais Linda', mas é preciso aceitar fantasia

Série da Netflix volta para segunda temporada sem a melhor personagem

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É inescapável dizer: a segunda temporada de “Coisa Mais Linda”, a série de cores feministas da Netflix ambientada no Rio de Janeiro da bossa nova, é um amontoado de clichês.

Neste caso, não é um problema. Bem costurados num roteiro ágil e lindamente embalados em fotografia e figurinos impecáveis, os clichês da série protagonizada por Maria Casadevall e Pathy Dejesus são inofensivos à trama estilo novelinha, para ser vista em maratona e torcer pelas personagens.

O trauma que encerrou a primeira temporada —atenção quem não viu, haverá spoilers sobre ela aqui— contamina toda a segunda. É ele que vai ditar os desdobramentos daqui em diante, mas é ele também que faz com que esta nova safra de episódios seja, em geral, pior que a primeira.

Sem a melhor personagem da série, Lígia (Fernanda Vasconcellos, também a melhor atuação), o enredo perde muito e caminha para um maniqueísmo mais ingênuo, de mocinhas contra vilões. Não há mais a mulher de político que mentia para o marido para cantar escondida em bares, e que mentia para amigas sobre a constante violência que sofria em casa.

Malu, a personagem de Casadevall, é uma mulher-maravilha, que não se detém com obstáculos como bandidos, falta de dinheiro, tabus sexuais, assédio, agressão psicológica do marido, perda da melhor amiga ou, sei lá, um coma.

Claro que a série remete a uma época em que a ambiguidade de anti-heróis e anti-heroínas era rara nas telas, sobretudo em produções hollywoodianas ou inspiradas por ela. Em 2020, entretanto, as séries mais aplaudidas trazem gente que não erra apenas por acidente mas também por intenção. Vide “Fleabag” e a excepcional “Little Fires Everywhere”, na Amazon Prime Video.

Nesse sentido, “Coisa Mais Linda” se aproxima demais de outra série recente, “Hollywood”, também na Netflix, por seu mergulho num passado revisitado, mais progressista, mais permissivo, democrático.

É um passado relido com o filtro das bandeiras identitárias de hoje, de forma mais doce e não crítica. Um passado em que o casamento entre negros e brancos não rendia mais do que comentários, em que casais gays não se sufocavam em armários e no qual uma mulher determinada podia subir em sua área de trabalho. Ou seja, um passado que não existiu, ao menos não para a média das pessoas.

Em “Hollywood”, o criador Ryan Murphy deixa essa brincadeira mais clara; Giuliano Cedroni e Heather Roth, em “Coisa Mais Linda”, nem tanto.

É preciso um esforço de abstração para se deixar levar pela história das três amigas (uma filhinha de papai convertida em empresária, uma empregada doméstica alçada a patroa e uma jornalista empoderada e libertária) em busca de respeito social.

A trilha sonora original, composta por João Erbetta, entremeada a clássicos, é coisa fina e inebriante o suficiente para ajudar na missão. E, a julgar pelo desfecho, vem outra temporada.

A segunda temporada de ‘Coisa Mais Linda’ está disponível na Netflix

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